“Pai de Luzia” se dedica a levar à população conhecimentos sobre evolução, em Jornal da USP

 

Réplica de crânio de Homo neanderthalensis em exibição na Ocupação Hominínia, no saguão do IEA
Núcleo dedicado à divulgação científica quer levar a cidades do interior as réplicas que atualmente estão em exposição na Ocupação Hominínia, no IEA – Foto: Leonor Calasans/IEA-USP

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O bioantropólogo Walter Neves conta que sempre dedicou parte de seu tempo à divulgação científica. Mas foi apenas depois de se aposentar como professor do Instituto de Biociências (IB) da USP que ele pôde desenvolver essa atividade sem ter de lidar com o julgamento de colegas que viam o esforço de popularização da ciência como uma perda do tempo destinado às aulas e à pesquisa. “Quando tem um corte de verba no CNPq, na Capes, na Fapesp, aí os cientistas (dizem) ‘temos que procurar o apoio da população’. Como procurar o apoio da população? Nunca perdeu cinco minutos do seu tempo para levar sua ciência para o povo, como é que você vai querer ter o apoio da população?”, questiona Neves, que desde 2018 trabalha no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, onde acaba de criar o novíssimo Núcleo de Popularização dos Conhecimentos sobre Evolução Humana.

O objetivo central do novo núcleo é levar conhecimentos científicos sobre a evolução da nossa espécie ao maior número possível de pessoas. Nesse sentido, a equipe desenvolverá ações para escolas públicas, estudantes de graduação e para o público geral. Walter Neves não esconde a vontade de montar pequenas exposições em shopping centers, que têm alta circulação de pessoas e seguem abertos durante a pandemia de covid-19. Ele entende que esse tipo de ação é uma contribuição importante, ainda que modesta, para combater o negacionismo e o anticientificismo que circulam pelo País junto com o coronavírus.

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Professor Walter Neves mostra antigos artefatos de pedra lascada em suas mãos
O professor Walter Neves é especialista na história evolutiva dos seres humanos – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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“Nós estamos vivendo um momento muito paradoxal. Nunca houve tanto negacionismo científico no País, realmente estamos vivendo um momento de trevas. Mas, por outro lado, por causa da pandemia, também nunca se falou tanto em ciência e nunca se falou tanto em cientistas. Eu acho que a gente deve aproveitar o lado bom. Com a pandemia, as pessoas estão valorizando a ciência e estão valorizando os cientistas”, afirma o bioantropólogo, que é popularmente conhecido como o “pai da Luzia”, por seus estudos com o fóssil humano de cerca de 11 mil anos. O crânio de Luzia foi encontrado em uma escavação em Lagoa Santa, Minas Gerais, na década de 1970.

Para quem dedicou toda a vida profissional à biologia evolutiva, combater o negacionismo científico significa fazer o contraponto às ideias criacionistas. “Eu tenho uma posição muito distinta dos meus colegas sobre essa coisa de criacionismo e evolucionismo. Eu acho que as pessoas atribuem significados às suas vidas de maneiras muito distintas. Algumas pessoas atribuem significado através da religião; outros, através da ciência. Eu acho que você optar por uma visão religiosa, ou seja, pelo criacionismo, ou você optar por uma versão científica, que é o evolucionismo, é uma decisão de foro íntimo. Mas eu acho que as pessoas têm que fazer isso de maneira informada”, argumenta o cientista.

Leia a matéria completa no Jornal da USP

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