Bioantropologia, Ciência, Educação e Covid-19: o ano de 2020 em retrospectiva (Parte II)

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Discentes e docentes do PPGA na abertura do ano letivo de 2020 com a presença da Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA. Foto: Antônio Carlos Villas.


O ano de 2020 foi particularmente difícil para a saúde mundial. No Brasil, além dos desafios médicos do Sars-CoV-2, enfrentamos também diversas tentativas de desmontes institucionais e ataques à academia. A pandemia de Covid-19, que por aqui se transformou em sindemia em muitas populações, e as enormes pressões contra as instituições federais de ensino, vindas de quem deveria apoiá-las, trouxeram inúmeras incertezas, que não deixarão saudades em 2021. O LEBIOS e o PPGA estiveram presentes no enfrentamento desses desafios, e todos os participantes das atividades do laboratório contribuíram para o avanço da ciência e para a garantia do respeito devido às instituições. Começamos o ano com a chamada de artigos para o Dossiê “Quilombos, Ecologia, Política e Saúde: perspectivas antropológicas”, da Amazônica, Revista de Antropologia, um volume de abrangência nacional organizado por Hilton P. Silva (PPGA/UFPA) e Maurício Arruti (PPGA/UNICAMP), que foi publicado em outubro, trazendo um panorama da situação atual das pesquisas sobre as comunidades negras rurais no país. Em março, quando a pandemia já estava entre nós, diversos eventos planejados para ocorrer ao longo do ano foram sendo cancelados ou precisaram se reorganizar para ocorrer de modo virtual. Durante o início da quarentena o Blog publicou um pequeno “guia” sobre filmes relacionados a epidemias e pandemias a partir de um olhar antropológico, para ajudar a ocupar o tempo em isolamento social. Todos pensavam então que, após um ou dois meses, a vida retornaria à normalidade. Em abril e maio a situação brasileira e mundial frente a pandemia piorou, e as diversas postagens publicadas no Blog mostram várias facetas dos impactos da Covid-19 na Amazônia, sobretudo no que tange as populações quilombolas e outros grupos vulnerabilizados. Em junho e julho, as matérias e atividades publicadas no Blog e demais veículos de divulgação do LEBIOS, mostram a diversidade de abordagens antropológicas do laboratório e a preocupação de seus integrantes com as temáticas mais relevantes para a região, deixando clara a importância da universidade no cenário da crise que assola o país.

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     Cartaz do III Seminário de Bioantropologia do GEB/UEPA, 2020


No mês de agosto, realizou-se virtualmente o III Seminário de Bioantropologia do GEB/UEPA, desenvolvido em parceria com o LEBIOS. O evento mereceu destaque no ano por ampliar a participação internacional nos debates sobre a bioantropologia na Amazônia e mostrar a importância desse campo do conhecimento para a resolução de problemas concretos, como nos casos de antropologia forense, identificação de sítios arqueológicos, uso de novas tecnologias de análises isotópicas, planejamento de ações de combate a pandemia de Covid-19 e outras doenças entre populações quilombolas e indígenas. Nesse mês também tiveram destaques a participação de diversos membros do laboratório em atividades virtuais envolvendo a pandemia e seus desdobramentos na Amazônia. Em setembro, embora a Covid-19 continuasse a merecer espaço, sobretudo pelo grave impacto nas populações quilombolas do Pará, as atividades nas quais o LEBIOS participou avançaram nos campos da Antropologia Forense, da medicina darwiniana, nas discussões sobre a situação política do país e na atenção aos refugiados indígenas venezuelanos Warao, com os quais temos diversas ações em andamento, em parceria com órgãos do município, do estado e outros laboratórios da UFPA. No mês de outubro se realizou de forma online a 32ª Reunião Brasileira de Antropologia, a primeira totalmente virtual. Esse também foi um momento histórico para a bioantropologia do PPGA e do Brasil pois, através das diversas atividades promovidas por nós, esse campo da antropologia voltou a frequentar o evento mais importante da antropologia nacional, depois de muitas décadas sem qualquer participação. Com a discussão sobre as experiências de ensino nos diversos subcampos da antropologia biológica no país abre-se a oportunidade para demonstrar a importância dos bioantropólogos nos variados cenários de atuação profissional, o que até uma década atrás era algo impensável no país. No fim do mês houve o lançamento do dossiê da Amazônica sobre as populações quilombolas brasileiras, contando com pesquisadores e artigos de todas as regiões do país. O número especial, culminância de mais de um ano de intenso trabalho dos organizadores e editoras, foi apresentado ao público no primeiro evento virtual promovido pela revista (https://www.youtube.com/watch?v=y9ZilWMIDQE).

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       Cartaz de lançamento virtual da ARA volume 12, número 1, 2020


Novembro é considerado o Mês da Consciência Negra e as atividades do LEBIOS continuaram a apoiar academicamente a causa das populações em situação de maior vulnerabilidade, com discussões e lives sobre a população negra, os grupos quilombolas, e  também os imigrantes Warao, em diversos fóruns, inclusive com uma participação muito especial na 16ª Mostra Internacional do Cinema Negro e também no catálogo e no livro resultantes da mostra, que é referência sobre arte e cinema decolonial na América Latina. No mês de dezembro, como não podia deixar de ser, o destaque foi o debate sobre a vacinação contra a Covid-19 e as implicações do acesso prioritário ou não à imunização por parte dos grupos indígenas e quilombolas. Embora alguns anunciem o “fim da pandemia” com o advento das vacinas, a realidade brasileira ainda está bastante distante da tranquilidade. Os desafios são enormes frente à aparente falta de articulação governamental para a busca de soluções de diagnóstico e manejo da pandemia, cujo número de casos e mortes voltou a aumentar nos últimos meses do ano, e há muitas incertezas sobre a vacinação, particularmente no que tange ao acesso para as populações rurais, como demonstrado na postagem de 23 de dezembro. Nesse mês também tivemos postagens sobre participação em eventos científicos, defesa de qualificação ao doutorado em bioantropologia, publicação de artigos e livros de interesse de nossa área, participação da primeira doutoranda indígena em bioantropologia do PPGA em ações de saúde com os Warao, e o capítulo “Retrato das Desigualdades Étnico-Raciais na Saúde” no livro Direitos Humanos no Brasil 2020: Relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, que mostra o quanto ainda precisamos avançar para construir uma sociedade mais justa e solidária.

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 Cartaz do lançamento do Relatório Direitos Humanos no Brasil 2020. 





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