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Capa do Volume 9, nº 1 do periódico Caderno 4 Campos, dedicado à Bioantropologia. Foto: Aguinaldo Moraes. |
A iniciativa de dedicar um número especial inteiramente à Bioantropologia, promovida pelo periódico científico Caderno 4 Campos, organizada por estudantes de pós-graduação, representa um marco inédito e altamente relevante para a área. O dossiê “Bioantropologias: diversidade, possibilidades e aplicações dos pressupostos práticos e teóricos de um campo em expansão” inaugura um marco significativo para a produção científica nacional, afirmando o protagonismo discente na produção e difusão do conhecimento científico.
Ao assumir a curadoria de um número especial, os discentes Ana Carolina Brito, Brenda Bandeira, Aguinaldo Moraes, Isabella Almeida e Uriel Lopes, juntamente com a equipe do C4C, não apenas contribuem para sinalizar o caráter pioneiro dessa edição, como também fortalecem redes acadêmicas, estimulam o diálogo entre diferentes abordagens e incentivam novas gerações de pesquisadores a se engajarem com o campo. Além disso, a organização do dossiê pelos alunos reforça o protagonismo discente na divulgação científica, incentivando a autonomia acadêmica e a colaboração entre pares.
A Bioantropologia, por natureza, é um campo que conecta mundos. O dossiê conta com o artigo “Da Estigmatização à Identificação: Rupturas e Permanências na Antropologia Física/Biológica”, da autora Valentina da Silva Dias Pereira, que aborda a trajetória complexa da Antropologia Física no Brasil, sua posterior ressignificação na Antropologia Forense e sua importância na luta pelos direitos humanos no Brasil. Em seguida, temos o artigo “Interconexões na Formação da Antropologia Forense Brasileira”, dos autores Mariluzio Araujo Moreira da Silva e Hilton Pereira da Silva, que analisa o percurso da Antropologia Forense no Brasil como um campo interdisciplinar e que estabelece diálogos com a Bioantropologia, Direitos Humanos e Arqueologia.
O artigo “A Antropologia da Saúde e os Itinerários Terapêuticos: Perspectivas a partir das religiosidades de matriz africana”, da autora Karoline Beatriz Oliveira Barroso, analisa como os processos de saúde, doença e cura são compreendidos a partir da religiosidade afrobrasileira. O artigo “Aspectos da Mortalidade Infantil na Bioarqueologia: Os Padrões de Desgastes Dentais dos Indivíduos 14 e 56 do Sítio Arqueológico Justino-SE”, das autoras Nataliane Vieira Costa e Jaciara Andrade Silva, analisa os desgastes dentários em restos mortais de crianças do sítio arqueológico Justino, em Sergipe. A partir da Antropologia Dentária, as autoras identificam padrões de desgaste relacionados à dieta e ao uso dos dentes como ferramenta, além de estimar a idade à morte dos indivíduos. O artigo “Possibilidades e Fronteiras na Pesquisa em Bioantropologia: Um breve panorama”, de Aguinaldo de Jesus Moraes Marques e Brenda Bandeira de Azevedo, apresenta um panorama sobre a evolução, interfaces e desafios contemporâneos da Bioantropologia.
O dossiê conta também com duas entrevistas, conduzidas por Ana Carolina Brito. Em “Contribuições de Hilton Pereira da Silva para a Bioantropologia na Amazônia”, é apresentada a trajetória acadêmica e profissional de Hilton Pereira da Silva, um dos principais nomes da Bioantropologia no Brasil, relatando sua formação multidisciplinar e atuação na consolidação da Bioantropologia tanto na Amazônia quanto no Brasil. Já em “Pesquisa Biocultural na Amazônia: Entrevista com a Bioantropóloga Barbara Piperata” é destacada a formação em Biologia e Antropologia desta pesquisadora e sua atuação em pesquisas bioculturais na Amazônia brasileira. Piperata relata como sua experiência de campo junto a comunidades ribeirinhas moldou sua abordagem interdisciplinar, integrando saúde, nutrição e práticas culturais.
Fechando o dossiê, temos o ensaio fotográfico “No Rastro do Açaí: Um Ensaio Fotográfico sobre Trabalho e Sustento na Amazônia”, de Aguinaldo de Jesus Moraes Marques, Ana Carolina Brito e Brenda Bandeira de Azevedo, que documenta visualmente o ciclo produtivo do açaí no Pará, destacando as relações entre trabalho extrativista, território e cultura ribeirinha. Esse ensaio evidencia como a prática do extrativismo do açaí integra saberes tradicionais, tecnologias locais e formas de manejo sustentável, ao mesmo tempo em que revela o papel do fruto na dieta e no cotidiano das comunidades amazônicas.
Ao reunir trabalhos de diferentes frentes, o número especial não apenas celebra a diversidade de temas, mas também mostra como a Bioantropologia é capaz de gerar pontes entre questões científicas e culturais, entre laboratórios e comunidades, entre passado e presente. É um lembrete de que a ciência não se constrói sozinha: ela floresce quando há espaço para diálogo, colaboração e, acima de tudo, para a iniciativa criativa de quem está construindo o futuro da pesquisa no Brasil.
Link para o dossiê: https://periodicos.ufpa.br/index.php/caderno4campos/issue/view/918/showToc
Por: Ana Carolina Brito e Uriel Lopes, doutorandos em Bioantropologia do PPGA/UFPA.
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