A Equipe do LEBIOS Lamenta o Falecimento de Niéde Guidon



Niéde nasceu em Jaú, SP, em 12 de março de 1933, filha de imigrantes europeus. Formou-se em história pela Universidade de São Paulo, fez especialização em arqueologia e doutorado em pré-história na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne investigando arte rupestre brasileira. Trabalhou na USP e foi perseguida pela ditadura militar, tendo que se exilar do país, indo lecionar na École des Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris. Voltou ao Brasil em 1978 com membro de uma missão Franco-Brasileira para investigar as pinturas rupestres na região de São Raimundo Nonato, no Piauí, de que tinha ouvido falar alguns anos antes. Se apaixonou pelo que encontrou e dedicou o resto de sua vida a estudar ali. Seus esforços de proteção do imenso acervo encontrado a céu aberto resultaram, em 1979, na criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, atualmente uma área protegida de interesse mundial declarado pela UNESCO.

Grupo da UFPA e guias na Serra da Capivara. Créditos: Acervo LEBIOS.

As descobertas da equipe de Guidon vieram a público mundialmente em 1986, com uma publicação na revista Nature sobre possíveis vestígios humanos de mais de 30 mil anos no Parque. Embora as análises tenham sido questionadas e ainda hoje haja controvérsias sobre as datações, os trabalhos realizados no Boqueirão da Pedra Furada colocaram o Parque no cenário arqueológico mundial, e sua riqueza de artefatos e pinturas é incontestável, fazendo deste um dos mais belos exemplos da capacidade criativa das populações pré-coloniais sul-americanas.

Vista da Pedra Furada. Créditos: Acervo LEBIOS.

Em 2017 um grupo de docentes e estudantes do PPGA participou do IX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e do I Encontro de Etnoecologia e Etnobiologia do Piauí, realizado na UFPI e após a apresentação dos seus trabalhos a equipe foi convidada por membros do grupo de Niéde para ir até São Raimundo Nonato visitar o Parque e o Museu do Homem Americano.

Fomos muito bem acolhidos. Tivemos a honra de conhecer a pesquisadora pessoalmente e passar algumas horas conversando com ela em sua agradável residência sobre suas histórias, experiências e desafios na manutenção do parque, na luta contra as invasões por posseiros, na pesquisa de campo, na construção do museu e de sua preocupação com o futuro deste inigualável patrimônio mundial.

Coordenador do Lebios e estudantes com Niéde Guidon em 2017.Créditos: Acervo LEBIOS.

O grupo visitou os principais sítios arqueológicos e empreendimentos sociais geridos pela Fundação do Homem Americano, dirigida por ela, e teve a oportunidade de vivenciar o importante trabalho de integração ser humanos-natureza-história realizado pela FUNDHAM e as belíssimas paisagens naturais do agreste piauiense. Foram momentos de grande aprendizado sobre arqueologia, ecologia, evolução, variabilidade e diversidade humana e sobretudo, de amor e dedicação à ciência.

Pinturas Rupestres no Parque. Créditos: Acervo LEBIOS. 
Niéde Guidon foi arqueóloga, pesquisadora, professora universitária; foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Piauiense de Letras, foi condecorada como Grande Oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico Nacional, entre muitas outras condecorações e prêmios que recebeu e foi, sobretudo uma cientista, cuja luta pela preservação do patrimônio bioarqueológico e ecológico da Serra da Capivara serve de inspiração para todos e todas que tiveram a oportunidade de conhecê-la.

A ciência brasileira está de luto.

Nossas condolências aos familiares e amigos de Níede.

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