Acabam de ser publicados mais dois artigos do LEBIOS que atendem aos interesses de dois campos distintos da bioantropologia.


O artigo de FILGUEIRAS, L.A., SILVA, H.P., RAMOS, E.M.L.S. 2020.  Nutritional Status of  Children from Caxiuanã National Forest, Brazil, publicado no International Journal of Development Research, número 10(2): 33681-33685 (disponível em: https://www.journalijdr.com/nutritional-status-children-caxiuan%C3%A3-national-forest-brazil) 
Aborda a situação da infância na Floresta Nacional de Caxiuanã à partir de uma perspectiva da auxologia e da ecologia humana. 

RESUMO 

NUTRITIONAL STATUS OF CHILDREN FROM CAXIUANÃ NATIONAL FOREST, BRAZIL 
Ligia Amaral Filgueiras1*, Hilton Pereira da Silva2, Edson Marcos Leal Soares Ramos3 

As populações ribeirinhas da Amazônia Brasileira são consideradas invisíveis e vulneráveis e suas condições de saúde têm sido pouco estudadas. Analisamos a saúde de 138 crianças de 0 a 9 anos, residentes na Floresta Nacional de Caxiuanã e entorno, município de Melgaço, Pará, Brasil. Medidas antropométricas, exames clínicos e questionários bioantropológicos foram realizados para comparar com os parâmetros da Organização Mundial da Saúde. Houve diferença significativa entre meninos e meninas de 0 a 4 anos na Altura por Idade (p = 0,038), com meninos ligeiramente menores. Cerca de 13,9% dos meninos de 0 a 4 e 10,5% das meninas de 5 a 9 anos apresentaram atraso severo de crescimento. Mais de 33% da população apresentou Z escore -2, indicando carência alimentar de longa duração ou doença severa. Quase 13% das crianças de 0 a 4 anos estão em risco de sobrepeso, caracterizando a transição nutricional. Apesar da queda da desnutrição na população infantil brasileira, para as crianças ribeirinhas, o crescimento apresenta melhora lenta, já que os determinantes sociais de saúde continuam afetando a qualidade de vida dessas populações. Não há saneamento ambiental nas comunidades, a maioria das casas não tem banheiro interno, há pouco acesso à educação e saúde e a água utilizada ainda é do rio ou poços. Embora existam algumas políticas públicas a essas populações, a situação das crianças da FLONA de Caxiuanã continua sendo um reflexo de outras populações rurais amazônicas, necessitando de intervenções mais eficazes e contínuas do governo. 
Palavras-Chave: Populações Ribeirinhas; Saúde das crianças; Determinantes Sociais de Saúde; Melgaço-PA; Amazônia. 

O artigo de GUIMARÃES S. & SILVA, H.P. 2020. What Have the Recent Discoveries About Neanderthal DNA Revealed about Homo sapiens? Publicado no periódico Anthropological Review, número 83(1): 93-107 (Disponível em: https://www.degruyter.com/view/j/anre.2020.83.issue-1/anre-2020-0008/anre-2020-0008.xml), faz uma revisão sobre as produções recentes envolvendo paleoantropologia e paleogenética dos grupos hominíneos mais recentes. 

RESUMO 

What have the revelations about Neanderthal DNA revealed about Homo sapiens? 

Os estudos em genética têm apresentado mais e mais indicativos sobre a complexidade das interações que teriam existido entre o Homo sapiens, Neanderthal e Denisovan, durante o Pleistoceno Médio. Os resultados apontam potencial substituição ou mistura de grupos que viveram em uma mesma região, em momentos diferentes. Recentemente, o tempo de separação entre os grupos em relação ao Último Antepassado Comum tem sido razoavelmente bem estabelecido. Eventos de mistura com destaque para o fluxo gênico de Neandertais em Humanos Modernos fora da África, Denisovanos em ancestrais do H. sapiens na Oceania e Ásia continental, Neandertais em Denisovanos, bem como a origem de características fenotípicas em populações específicas como cor da pele, olho, cabelo e pré-disposição para desenvolver determinados tipos de doenças tem também sido encontrados. As informações atuais sustentam a existência tanto de eventos de substituição quanto cruzamento, e indicam a necessidade de revisão dos dois principais modelos explicativos acerca da origem e evolução do H. sapiens e seus co-parentais, os modelos Multiregional e o “Out-of-Africa”. Definitivamente não há mais a possibilidade de justificar apenas um modelo em detrimento do outro. Este artigo tem como objetivo fornecer uma breve revisão e atualização sobre o debate em torno desta questão, considerando os avanços trazidos pelas recentes análises de características genéticas e morfológicas. 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Mulheres na Bioantropologia

Imagem
Embora os nomes masculinos sejam muitas vezes os mais lembrados (P. Broca, F. Boas, A. Hrdlicka, E. Roquette-Pinto, L. Leakey, D. Johanson), as mulheres sempre marcaram presença e fizeram contribuições fundamentais ao campo da Bioantropologia, desde quando ainda se chamava Antropologia Física ( https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.23912 ). Ao longo do século XX, apesar de inúmeras barreiras e desafios de uma área ainda dominada por homens, o número de mulheres trabalhando com antropologia biológica e forense cresceu exponencialmente ( https://escholarship.org/content/qt1n42j2m0/qt1n42j2m0.pdf ) e pesquisadoras como Mildred Troter, Mary Leakey, Jane Goodall, Trudy Turner, Darna Dufour, Dean Falk, Nina Jablonsky, Heloisa Alberto Torres, Eugênia Cunha e Cristina Padez passaram a desfrutar do merecido reconhecimento por suas importantes contribuições ao campo. Heloísa Alberto Torres, primeira professora concursada de antropologia e etnografia do Brasil (1925) e primeira diretor
Leia mais

Ilha do Marajó: Fome e Determinantes Sociais da Saúde no Contexto da Pandemia

Imagem
Foto: Reprodução. No Estado do Pará, a cidade de Melgaço, localizada na Ilha do Marajó – a maior ilha costeira do Brasil, sendo também a maior ilha fluviomarítima do mundo –, é o município do interior da Amazônia com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, de acordo com o último censo ( IBGE   2010 ), ocupando a marca de 0,418 de  IDH  em 2013, o que equivale a pior posição nacional, perdendo apenas para a cidade de Fernando Falcão, do Estado do Maranhão (MA), com IDH de 0,443 (2° lugar), seguidas pelas cidades marajoaras de Chaves com IDH de 0,453 (6° lugar) e Bagre com IDH de 0,471 (8° lugar); e Cachoeira do Piriá, com IDH de 0,473 (9° lugar), localidades paraenses com números degradantes de analfabetismo, fome, sanitarismo e corrupção política, fatores que dificultam sobremaneira a melhoria dos dados em questão. O IDH é avaliado de acordo com as informações de expectativa de vida ao nascer, educação e índices per capta do Produto Interno Bruto (PIB), que sã
Leia mais

Bioantropologia: O Que é?

Imagem
Bioantropologia ou Antropologia Biológica – Anteriormente chamada também de Antropologia Física, investiga os processos evolutivos e adaptativos bioculturais e a relação com o ambiente natural desde os ancestrais primatas (primatologia), os hominíneos do passado (paleoantropologia) até as populações humanas contemporâneas (biologia humana), e auxilia nos estudos das bases biológicas e sócio-ecológicas do comportamento humano no passado e no presente, contribuindo para a integração dos campos da antropologia e para compreensão do fenômeno Humano. Do ponto de vista aplicado a Antropologia Biológica amplia os espaços de atuação acadêmica para além dos limites do ensino e da pesquisa, contribuindo para o planejamento, desenvolvimento e implementação de políticas públicas relativas a um amplo leque de áreas, que vão desde questões de nutrição e determinantes sociais em saúde em populações vulneráveis, passando pela relação entre genética, ambiente e a emergência de doenças agudas e crônicas
Leia mais