A Bioantropologia do Pará amplia horizontes de atuação e ganha prêmio em outubro


Outubro tem sido um mês agitado para a Bioantropologia dentro e fora do Pará. Muitas atividades, em diferentes locais, tem demonstrado os múltiplos potenciais e interfaces da área, apontado um amplo leque de oportunidades para os estudantes interessados, e mostrando nossa atuação nos mais diversos campos.

No período de 12 a 17 de outubro, a Associação Brasileira de Pesquisadores e Pesquisadoras Negros (ABPN) (https://www.abpn.org.br/) promoveu em Uberlândia, MG, o X Congresso Brasileiro dos Pesquisadores e Pesquisadoras Negros (COPENE), que reuniu cerca de 4 mil pessoas, entre estudantes, movimentos sociais, acadêmicos e instituições no campus da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), para discutir, analisar e fazer proposições sobre uma ampla gama de questões pertinentes à população negra brasileira (https://www.copene2018.eventos.dype.com.br/). O tema geral do Congresso foi: (Re)Existência Intelectual Negra e Ancestral, tendo como uma das suas temáticas mais relevantes a da Saúde da População Negra. Quando se olha os dados de saúde nacionais, as populações indígenas e negras são as que apresentam os piores indicadores. Isto é fruto do acúmulo histórico de iniquidades, que só recentemente se começou a superar através de políticas públicas.

As discussões sobre saúde no COPENE foram organizadas pelo Área Científica da Saúde, coordenada pela Profa. Dra. Edna Ramos (UEFS), Prof. Ms. Altair Lira (UFBA), Prof. Hilton P. Silva (LEBIOS-PPGA e PPGSAS/UFPA) e Prof. Dr. Jefferson Olivatto (UFPR). Além de organizar as sessões, como parte da programação do evento, no dia 16/10, o Prof. Hilton proferiu uma palestra sobre A Saúde das Populações Quilombolas Brasileiras, baseado nas pesquisas realizadas pelo LEBIOS. Em seguida, o Prof. Hilton foi a João Pessoa, PB, para o III Congresso Brasileiro de Antropologia Forense (CONAF), que ocorreu entre os dias 18 e 20 tendo como tema central: Mais Ciência, Menos Impunidade, Mais Direitos Humanos (http://antropologiaforense.wixsite.com/conaf2018). Antes do início do congresso, no dia 17/10, o Coordenador do LEBIOS participou do curso intensivo Inovações em Antropologia Forense, ministrado pela Profa. Dra. Eugénia Cunha, catedrática de Antropologia da Universidade de Coimbra, Diretora Geral do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses de Portugal, consultora da Interpol, e uma das mais reconhecidas antropólogas forenses da atualidade, com trabalhos relacionados a Direitos Humanos realizados na América do Norte, América Latina, Ásia e África (https://www.youtube.com/watch?v=yPidBQjtQQY). Além de participar da programação de alto nível, com os principais centros e especialistas da área no país, no dia 20/10, o Prof. Hilton apresentou o trabalho intitulado: Sobre Selva e Feras: Um Relato de Caso de Antropologia Forense na Amazônia (resumo abaixo), realizado em coautoria com a Profa. Dra. Claudia Rodrigues-Carvalho, Coordenadora do Setor de Antropologia Biológica e ex-diretora do Museu Nacional/UFRJ. O trabalho foi premiado entre os três melhores na categoria Temas Livres do CONAF, uma grande honra para a bioantropologia da UFPA, que participou pela primeira vez do evento promovido pela Associação Brasileira de Antropologia Forense (ABRAF).


Coordenadores da Área Cientifica da Saúde da população Negra com a Presidente da ABPN Profª Nicea Amauro
Prof. Hilton P. Silva e Profª Edna Araujo na palestra sobre Saúde da População Quilombola

Participantes da reunião de trabalho da Área Cientifica da Saúde da população Negra no X Copene
Recepção aos participantes do III CONAF
Prof. Hilton P Silva com as Presidentes do Conaf Profª Mª do Socorro de Araujo e do CBOL Profª Patricia Rabello
Ganhadores do prêmio de melhor trabalho científico do CONAF com a Comissão Julgadora e o presidente da ABRAF

Curso pratico Inovações em Antropologia Forense


Profª Eugenia Cunha ministrando curso sobre Antropologia Forense


Enquanto isso, em Belém, se realizou no dia 19/10 o I Seminário de Bioantropologia do GEB-Pará/UEPA (http://bioantropologiadopara.blogspot.com/). Com o tema: A Perspectiva Biocultural da Antropologia, o evento organizado pelas Profas. Dras. em Bioantropologia Lígia Filgueiras e Ariana Silva da Silva e pela Profa. Ms. em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia/Saúde Coletiva, Roseane B. Tavares, contou com a participação de um grande número de estudantes e pesquisadores/palestrantes como os Profs. Drs. Flávio Bezerra Barros (PPGA/UFPA), Pedro da Glória (PPGA/UFPA), Edson Ramos (LASIG/UFPA), além dos profissionais mestres e doutores egressos da UFPA, trazendo para a UEPA uma ampla mostra do que é a Bioantropologia e suas potencialidades, contribuindo para a consolidação da área no Pará e demonstrando uma rápida expansão do campo no Estado. O sucesso da iniciativa das professoras, criadoras do Grupo de Estudos em Bioantropologia (GEB/UEPA), traz muito orgulho ao LEBIOS/PPGA.

As organizadoras do I Seminário do GEB-UEPA

Profª Isabela Guerreio no I Seminario do GEB-UEPA

Prof. Pedro da Gloria no I Seminário do GEB--UEPA

Prof. Edson Ramos no I Seminário do GEB-UEPA

Sessão sobre Evolução Humana no I Seminário do GEB-UEPA


Ampliando ainda mas as discussões do campo da Bioantropologia em Belém, a Profa. Dra. em Bioantropologia Elizabete P. Pires foi convidada para palestrar sobre sua pesquisa relacionada às condicionantes de saúde da Usina Hidrelética de Belo Monte e os impactos biossociais na população de Altamira, no dia 19/10, durante o II Simpósio de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Pará (II SDIPA) (https://doity.com.br/sdipa2018), promovido pela Liga Interdisciplinar de Doenças Infecto-Parasitárias na Amazônia da Universidade da Amazônia (UNAMA). Além de continuar a analisar e fomentar políticas públicas para a região e o país, as temáticas bioantropológicas tem contribuído para a integração entre docentes e discentes das Instituições de Ensino Superior públicas e privadas em Belém, fortalecendo, assim a ciência e a sociedade em nosso Estado.


Prof Elizabete Pires palestrando no II SDIPA



Ainda durante o mês de outubro foram realizadas diversas reuniões no LEBIOS para a organização do IV Seminário de Bioantropologia do PPGA, que deverá ser realizado na 1ª semana de dezembro, com a participação de convidados locais e nacionais. As informações sobre programação, voluntariado para a organização e inscrições estarão disponíveis em breve neste blog e no site do PPGA/UFPA (http://ppga.propesp.ufpa.br/index.php/br/), no qual já se encontram disponíveis os editais para as candidaturas ao Mestrado e Doutorado nas três áreas de concentração do programa (Bioantropologia, Arqueologia e Antropologia Social).


Resumo
Sobre Selva e Feras: Um Relato de Caso de Antropologia Forense na Amazônia
Hilton P. SILVA, Cláudia RODRIGUES-CARVALHO

No Brasil em geral a Antropologia Forense (AF) ainda é uma área incipiente, há grandes desafios para a formação de especialistas e pouco reconhecimento de sua relevância. Centenas de esqueletos humanos são encontrados todos os anos no país e grande parte deles é inumada sem identificação por falta de condições e de peritos que possam adequadamente analisá-los. Este relato de caso visa demonstrar a importância da análise multidisciplinar utilizada pela AF para elucidação de casos ocorridos em ambientes de difícil acesso e onde o volume de informações disponíveis é bastante limitado. Trata-se de um relato de investigação forense sobre a morte de um indivíduo à partir de um naufrágio ocorrido próximo à Terra Indígena Apaporis, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Após cerca de 3 meses do acidente, foram encontrados às margens do rio um fêmur e um osso ilíaco, juntamente com uma calça e uma bota. Os restos estavam em bom estado, apresentando sinais de perfuração, impacto e pequenos danos, possivelmente ocorridos post-mortem. O Ilíaco apresentava perfurações  sugestivas de compressão por mordida de animal. O Fêmur apresentava grande número de perfurações. A variedade de formas, tamanhos e intensidade das perfurações sugeriu diferentes episódios de ação de um único animal, com intensidade variada, ou diferentes animais. A busca pela identificação dos potenciais causadores das lesões e pelo perfil biológico do indivíduo levou a um trabalho em parceria entre zoólogos, veterinários e bioantropólogos, que permitiu a identificação positiva da vítima bem como a indicação dos possíveis agentes das lesões.

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