Bioantropologia na Reunião da Associação Brasileira de Antropologia - ABA



Entre os dias 03 e 06 de Agosto de 2016 correu a 30ª Reunião Brasileira de Antropologia - ABA, na Universidade da Paraíba, Campus I, cidade de João Pessoa, evento de significativa importância para a Antropologia Brasileira. A ABA 2016 teve como tema: "Políticas de Antropologia: Ética, Diversidade e Conflitos", contando com a participação da Doutoranda/Bioantropóloga Ariana Kelly L S da Silva, GT: "Agenciamentos Sociais e Políticas Públicas de Saúde: Cruzando e Confrontando Perspectivas", Coordenado pela Prof.ª Dr.ª Érica Quináglia *Universidade de Brasília) e Prof.ª Dr.ª Sônia Weidner Maluf (Universidade Federal de Santa Catarina). A discente Ariana da Silva participou do GT em questão com a Apresentação Oral: "A Experiência de Viver com Doença Falciforme na Amazônia: Discussões sobre Assistência, Racismo Institucional e Identidade Social no Estado do Pará", com coautoria do Prof. Dr. Hilton P da Silva (PPGA/UFPA). O resumo e as fotos seguem abaixo:

Ariana da Silva durante apresentação no GT da ABA
A Experiência de Viver com Doença Falciforme na Amazônia: Discussões sobre Assistência, Racismo Institucional e Identidade Social no Estado do Pará

Silva¹, A K L S; Silva², H P

A Doença Falciforme (DF ou Hb S) é a doença genética que mais ocorre no mundo. No Brasil, cerca de 3.000 crianças nascem por ano com DF. No Estado do Pará, a prevalência é de 1% da forma sintomática, a Anemia Falciforme (Hb SS). São pessoas que vivenciam fatores clínicos, familiares e institucionais no convívio com a doença, englobando questões biossociais e políticas, analisadas pelo viés da Bioantropologia. Na Fundação Hemopa/Belém, 45 pessoas com DF foram investigadas a respeito do seu cotidiano, envolvendo sintomas, acesso a serviços, preconceitos, tratamentos, cuidado e autoidentificação no quesito raça/cor, elementos da experiência de viver com uma doença crônica "racializada" no Pará. A pesquisa etnográfica durou 8 meses de diálogos com as pessoas, profissionais e serviços de saúde. Após aprovação na Plataforma Brasil, munidos do TCLE, aplicamos formulário semiestruturado e entrevistas no Hemopa, com observação participante. A Antropologia da Doença, que analisa as agências de ter uma enfermidade (Laplantine 2004), a abordagem biocultural sobre Illness/Disease, entendendo a DF como de caráter genético, com complicações biológicas e clínicas ao longo da vida que, por sua natureza biocultural, interferem na sociabilidade da pessoa com o agravo (Silva 2012; Jackson 2000; Silva 2009) e as perspectivas sobre raça e racismo no Brasil (Munanga 2003, 2004) embasaram o estudo. Descrevem o seu dia-a-dia como difícil devido as complicações da doença, tanto nos processos clínicos de transfusões, crises de dor, internações frequentes, deslocamentos do interior para a capital para atendimento e apoio familiar, quanto na dificuldade de diagnóstico, ausência de cuidados e insensibilidade dos profissionais de saúde, que os classificam como “doentes”, “viciados” e criam barreiras, afetando suas condições de vida/saúde. O racismo/racismo institucional foram identificados nas falas: esta “é uma doença que vem de pessoas negras da África”, “fui aconselhada a não ter mais filhos porque pode nascer doente” e o constrangimento dos profissionais em inquirir sobre a raça/cor. Os dados indicam que 82% das pessoas se autodeclaram negras ou pardas, processos identitários que devem ser considerados nas análises de saúde, que tem sido negligenciados. A DF é um fenômeno humano complexo e as pessoas necessitam de maior apoio do Estado, devendo elaborar Políticas Públicas eficazes para o tratamento dos sujeitos, que vivenciam limitações financeiras, racismo e dificuldade de acesso aos serviços/profissionais de saúde. O SUS deve proporcionar maior atenção a essas pessoas, ofertando Educação Continuada aos profissionais, a fim de melhorar a qualidade de vida dos sujeitos fragilizados pela DF, cuja inadequação do atendimento é causa de suscetibilidade à Saúde da População Negra.

Palavras-chave:
Saúde População Negra
Autor
Ariana Kelly Leandra Silva da Silva (SEDUC)¹

Coautor(es)
Hilton Pereira da Silva (UFPA)²
Banca Avaliadora de Apresentação Oral da ABA: Prof.ª Dr.ª Érica Quináglia, Ms,
Ariana da Silva, Prof.ª Dr.ª Mirela e Prof.ª Dr.ª  Sônia W. Maluf
Outras informações no site:

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