O Crescente Arredondamento das Formas
Apesar de exibir índices
inferiores aos dos Estados Unidos, a obesidade no Brasil já é um problema de Saúde Pública
Reportagem da Science
Por Bruno Francheschi Troiano
No Brasil, a obesidade já é
considerada um sério problema de saúde pública. Segundo dados do Ministério da
Saúde, 3,5 milhões de brasileiros estão em estado de obesidade mórbida – quando
o peso de uma pessoa ultrapassa o valor 40 no índice de massa corporal (IMC, divisão do peso pela
altura). Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), de 2004, cerca de 10% das crianças e adolescentes
brasileiros estão acima do peso e a cada ano esse número aumenta. A obesidade infantil provoca
problemas precoces como hipertensão, colesterol elevado, diabetes, doenças
ortopédicas e até mesmo bullying nas escolas. Crianças diagnosticadas com
obesidade desenvolvem hábitos como insaciabilidade – algumas chegam a repetir o
prato até três vezes, durante as refeições – têm muita sede e cansaço
exagerado.
Uma das razões que contribuem
para esse quadro é a Junk Food – alimentos altamente calóricos, mas pouco
nutritivos. Hambúrgueres gordurosos, batatas fritas, milk-shake, sorvetes,
pizzas, de fácil acesso às crianças, podem ser considerados atentados à saúde
infantil. A publicidade massiva em torno desses alimentos, no entanto, faz com
que sejam consumidos de maneira crescente.
Na verdade, a Junk Food não é
prejudicial apenas a crianças e adolescentes. Como resultado do consumo crescente,
as estatísticas mostram que adultos brasileiros também arredondam perigosamente
suas formas, com impacto
direto na qualidade da saúde. O aumento do poder aquisitivo,
mais recentemente, fez crescer o consumo desses alimentos – não apenas em
restaurantes do tipo fast-food. No Brasil, cresce também o consumo de comidas
congeladas com elevadas concentrações de conservantes, como reflexo de mudanças
na estrutura social.
Segundo o mesmo estudo do IBGE, por volta de 43% dos brasileiros estão acima do
peso ideal e
13% são obesos – porcentagem já elevada, mas equivalente a pouco mais que um
terço da população americana de obesos.
O quadro de obesidade mórbida
está associado, quase sempre, a uma diversidade de causas. Entre elas, fatores
biológicos e ambientais. Os fatores biológicos envolvem genética e metabolismo,
enquanto depressão, angústia e ansiedade são considerados fatores ambientais.
Há casos em que mesmo dietas e exercícios físicos
não resultam em perda de peso, ao contrário. A pessoa pode ganhar ainda mais
massa corpórea. As dietas radicais – normalmente divulgadas por revistas
populares – não necessariamente funcionam, pois ao final de um ciclo a pessoa
sente mais fome que normalmente, devido à falta de nutrientes ingeridos. Daí a
importância de um tratamento criado e acompanhado por um profissional
especializado na área. No Brasil, o tratamento contra a obesidade, na melhor
das hipóteses, é acompanhado por nutricionistas. No entanto, praticamente não
existe apoio com base nas ciências do comportamento, levando em conta que boa
parte das dificuldades dos obesos é também de natureza psicológica.
Uma opção para obesos ou pessoas
acima do peso ideal interessadas em emagrecer de maneira saudável é o
Vigilantes do Peso (www.vigilantesdopeso.com.br), organização mundial que
participa ativamente do fórum científico global de disciplinas relacionadas ao
controle do peso, dando suporte e acompanhamento para interessados. Na cidade
de São Paulo, pacientes com quadro de obesidade mórbida podem recorrer ao tratamento
no Hospital das Clínicas da FMUSP. No ano passado, o hospital iniciou testes
com um novo tratamento que consiste em inserir uma prótese endoscópica flexível
– com 62 cm de comprimento – na porção inicial do intestino delgado. Os
primeiros resultados revelam perda de aproximadamente 30% de peso, o que
correspondeu ao esperado pelos pesquisadores. Mas esta ainda está longe de ser
uma solução ideal.
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