VII Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme - Salvador, Bahia - Bioantropologia/UFPA com Apresentação Oral

Atenção à Saúde Inovações Tecnológicas no SUS


O VII Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme (DF) acontecerá de 20 a 23 de novembro de 2013, em Salvador, no Centro de Convenções da Bahia, e dá prosseguimento às ações integradas, multiprofissionais e multidisciplinares do Ministério da Saúde (MS) no âmbito do cuidado, da atenção e das inovações tecnológicas normatizadas no Sistema Único de Saúde (SUS), voltadas para as pessoas com DF e contará com a participação da Bioantropóloga Ariana Kelly L. S. da Silva (Belém), com proposta aprovada de Apresentação Oral com título "As Nuances de "Cor" da Doença Falciforme na Amazônia Paraense", que fará parte da programação científica do VII Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme, com Coautoria do Prof. Dr. Hilton P. da Silva (Médico/Bioantropólogo), do Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA/UFPA. O resumo do trabalho segue abaixo:

As Nuances de “Cor” da Doença Falciforme na Amazônia Paraense

Ariana KLS Silva arianabelem@gmail.com
Hilton P Silva hdasilva@ufpa.br


UFPA/PPGA

"Introdução: A Doença Falciforme (HB*SS) é uma das doenças genéticas mais prevalentes em todo o mundo. No Estado do Pará, o genótipo HB*SS ocorre em cerca de 1% da população, que enfrenta inúmeros desafios cotidianos em relação ao acesso e acessibilidade aos serviços de saúde, à vulnerabilidade
biossocial e aos estigmas relacionados à “cor” dos indivíduos acometidos pela síndrome, representando um sério problema de saúde pública. Objetivo: Este trabalho analisa um grupo de 40 pessoas HB*SS no Estado do Pará, atendidas no Hemocentro regional, que se autodeclaram ‘morenas’ (35%), ‘pardas’ (27%), ‘brancas’ (15%), ‘negras’ (13%), ‘pretas’ (7%) e ‘amarelas’ (3%). No Hemocentro essas pessoas foram registradas como ‘pardas’ (70%), ‘brancas’ (15%), ‘pretas’ (2%) e “cor não informada” (13%), configurando uma clara discrepância entre auto e hétero declaração, aspecto importante no que diz respeito ao planejamento de investimentos em saúde pública para a população negra no Brasil e que, segundo o Ministério da Saúde, deve considerar a autodeclaração como meta para o acolhimento de grupos vulnerabilizados de modo equânime. Metodologia: A metodologia compreensiva e a análise de conteúdo foram os caminhos utilizados para contextualizar a experiência da doença, através do contato com os sujeitos, que diariamente convivem com as instabilidades da enfermidade e as dificuldades das relações sociais moduladas por sua cor e pela DF. A vivência com a doença, que é elaborada pelas relações sociais, falas, percepções e enredamentos familiares e extrafamiliares do grupo estudado, que organiza sua vida social de modo sui gêneris, foram as principais informações levantadas. Resultados: A racialização da DF é um Determinante Social em Saúde (DSS) que comporta elementos biológicos e culturais, especialmente quando ainda considerada como “doença que vem do negro” pelos sujeitos da pesquisa, e subnotificada no quesito cor/raça pelo  serviço de saúde, devendo ser analisada sempre sob uma perspectiva biocultural. Conclusão: A DF está vinculada aos DSS através do estigma racial relacionado à cor dos sujeitos que ainda permeia a sociedade brasileira. Tal estigma é incorporando às variadas suscetibilidades dos diversos interlocutores, como também demonstra a subnotificação do quesito cor no Hemocentro paraense, caracterizando uma forma de racismo institucional em relação às pessoas com DF, que necessitam de sensibilidade política e de melhor capacitação dos setores de atenção básica à saúde para que a população negra possa ser realmente incluída nos serviços de saúde".
 


A Doença Falciforme é uma das doenças genéticas e hereditárias, mais comum no mundo, com larga incidência no Brasil. Trata-se de uma mutação genética ocorrida no continente africano que aqui chegou em decorrência da triste história de povos africanos trazidos para cá para a escravidão. Em função disso, desde 2005, o Ministério da Saúde desenvolve a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme. Reivindicação antiga do movimento de homens e mulheres negras foi estabelecida no âmbito do SUS pela portaria GM/GAB n° 1.391, de 16 de agosto de 2005, sendo executada, em todo o país pela Equipe de Assessoria Técnica em Doença Falciforme (ATDF), da Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH), vinculada ao Departamento de Atenção Especializada (DAE), da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) do MS.


Promovido pelo MS, em parceria com a Universidade da Bahia (UFBA) e com a Secretaria de Estado de Saúde da Bahia (SESAB), este simpósio acontece em momento oportuno, em face do modelo de atenção aqui preconizado, está sendo citado como referência internacional. Com natureza multidisciplinar e multiprofissional, vai abordar tema hoje essencial ao aprimoramento dessa atenção – as inovações tecnológicas, que podem oferecer às pessoas com DF longevidade com qualidade de vida.


Além de palestrantes internacionais e convidados da África, onde a doença teve origem, terá a participação de trabalhadores do SUS e de representantes das associações de pessoas com DF de todos os estados brasileiros, aspecto esse último de grande relevância, pois o usuário é o filtro do aprimoramento na aplicação da política.


Este simpósio é realizado de dois em dois anos, sempre em uma capital diferente e atualmente é priorizado pela CGSH para as capitais do Nordeste, por ser a região de maior incidência da doença. Este ano o simpósio volta a Salvador-Bahia estado de maior incidência da DF no Brasil, onde nasceu pela iniciativa de um grupo de especialistas que se dedicava aos estudos da doença no Brasil e que se transformou e cresceu ao ser assumido pelo MS.


A escolha de Salvador tem ainda outro motivo: a cidade sedia na UFBA o Centro de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, que em parceria com o MS mantém um centro de estudos e pesquisas no âmbito da terapia celular em lesões ósseas e de pele em DF, que vem atendendo à Bahia e muitos outros estados da federação.


A abertura do simpósio acontecerá no Dia da Consciência Negra – 20 de novembro, que cultua a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695 –, muito significativa para o movimento negro e, naturalmente, para as pessoas com DF. Esse é um segmento da população nacional com o qual o país tem grande dívida social. Os africanos e seus descendentes contribuíram para a formação brasileira. A adoção de políticas compensatórias é uma forma de resgatar a dívida. É a essa causa que, com grande orgulho, devota-se este simpósio.

Texto e outras informações do/no link abaixo:

http://www.doencafalciforme2013.ufba.br/ 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mulheres na Bioantropologia

Ilha do Marajó: Fome e Determinantes Sociais da Saúde no Contexto da Pandemia

Bioantropologia: O Que é?