Bioantropologia do PPGA Promove Intercâmbio Internacional de Pesquisa com a Ohio State University, EUA.

Em continuidade às ações do projeto "Formação do Microbioma Intestinal Infantil: uma investigação biocultural", parceria entre o PPGA e o PPGSAS da UFPA, o Departamento de Antropologia da Ohio State University (EUA) e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (vide: http://bioantropologiaufpa.blogspot.com/2021/12/pesquisadores-do-projeto-microbioma.html e http://bioantropologiaufpa.blogspot.com/2022/06/lebios-recebe-pesquisadores.html), recentemente mais uma estudante da universidade Norte Americana esteve em visita acadêmica à UFPA para conduzir parte de suas pesquisas, em estreita colaboração com a equipe do Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente (LEBIOS), que está sediado no Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo, no campus I.
A graduanda em Antropologia Médica da OSU, Stephanie Fannin viveu sua primeira experiência de campo no Brasil entre o final de junho e o início de agosto deste ano. Foram quase dois meses de muito aprendizado. Neste período ela pode participar das diversas atividades de campo conduzidas pela equipe do projeto sediado no LEBIOS, aprimorar o Português e trocar experiências sobre a bioantropologia e a antropologia médica com os docentes e discentes da UFPA.
Na entrevista a seguir, exclusiva para o nosso blog, ela conversou com a doutoranda em bioantropologia Ana Carolina Brito, sobre sua formação, a importância do seu trabalho de pesquisa e suas primeiras experiências de campo no Brasil e em Belém.

Entrevista

AC: Por qual razão você se interessou por Antropologia Médica? Conta mais pra gente a área de atuação e os pontos fortes do curso?

SF: Interessei-me por Antropologia Médica porque sempre tive um forte interesse em saúde pública, mas não gostava de como o currículo de saúde pública era amplo e de nível macro na minha universidade. Isso me levou a buscar a antropologia, onde eu poderia buscar questões relacionadas à saúde pública, olhando mais de perto os contextos locais e entendendo as influências sociais, econômicas e políticas em jogo nesses contextos. Os pontos fortes deste curso incluem o foco na saúde através de uma perspectiva biocultural, o que significa que a saúde nunca é considerada estritamente do ponto de vista biológico. A saúde de uma perspectiva biocultural é sempre sobre corpo e lugar combinados, o que significa que a saúde humana é muito mais uma resposta ao contexto e à cultura que a cerca. Isso é incrivelmente importante porque o modelo dominante na medicina reduz a saúde a uma simples disfunção fisiológica que é resultado das ações de um indivíduo. Dentro da antropologia médica especificamente, sempre me interessei particularmente pela medicina evolutiva, que vê a saúde e a doença como resultado de processos evolutivos e de desenvolvimento, bem como a saúde da mulher. As mulheres continuam sendo uma parte negligenciada da pesquisa científica, mas são membros fundamentais das sociedades e possuem um conhecimento valioso que é infinitamente interessante para mim.

AC: O que te fez estudar alimentação infantil? Conta mais sobre a tua pesquisa dentro do Projeto Microbioma?

SF: Minha pesquisa dentro do Projeto Microbioma se concentrou em entender os fatores que moldam as decisões de alimentação materna nos dois primeiros anos de vida em Belém. O que me fez estudar nutrição infantil é que ela está diretamente relacionada à forma como as mães internalizam e depois aplicam os conhecimentos que encontraram ativa ou passivamente sobre amamentação e alimentação complementar. Por meio de várias atividades, pude conversar com mães de Belém sobre como elas se sentem em relação a alimentos específicos, quais alimentos acreditam ser melhores para bebês em diferentes fases e quais sinais buscam antes de introduzir novos alimentos. Isso me deu uma boa visão de como a cultura e as iniciativas de saúde pública estão moldando as percepções do que é e do que não é saúde em um bebê.

AC: O que mais te chamou atenção no campo em Belém?

SF: O que mais me chamou a atenção no campo foi como as crenças são fortes em torno da comida em Belém. Havia tantos tabus alimentares fortes quanto fortes preferências por certos alimentos, como o açaí, de uma maneira que nunca encontrei antes. O açaí era um tema universal que parecia abranger grande parte da identidade de Belém. E quando eu revelava às pessoas no campo que eu havia provado açaí, elas automaticamente pareciam se sentir mais à vontade comigo e isso estimulava uma conversa maior. Muitas das mães que entrevistei me ensinaram sobre diferentes alimentos me fazendo prová-los, e foi um processo fascinante aprender sobre os alimentos dessa maneira.

AC: Quais são as tuas perspectivas futuras na Antropologia?

SF: Espero continuar meus estudos em Antropologia fazendo um mestrado em Antropologia Médica. Espero poder continuar o trabalho que iniciei em Belém durante este programa e trabalhar mais com as novas tecnologias e métodos que estão sendo desenvolvidos na antropologia médica e áreas afins.

AC: Como a tua pesquisa pode ajudar em questões de saúde infantil em Belém?

SF: Minha pesquisa pode ajudar a entender melhor a interação entre cultura, economia e iniciativas de saúde pública, que é importante para entender questões de saúde infantil em Belém. Acho que as mensagens internacionais de saúde pública em Belém estão tendo uma forte influência nas crenças maternas envolvendo a duração da amamentação exclusiva, bem como os tipos de alimentos que são melhores para os bebês consumirem. E essas ideias coexistem com crenças culturais mais fortes, como a ideia de leite fraco e a preferência por tamanhos infantis maiores. Assim, minha pesquisa mostra em parte como certas iniciativas de saúde pública vêm penetrando na cultura em Belém enquanto outras enfrentam maiores barreiras ao fazê-lo. Para ajudar com questões de saúde infantil, ajuda saber por que certas iniciativas mostram maior sucesso do que outras.

AC: Como foi a tua experiência em Belém?

SF: Minha experiência em Belém foi incrível, e sou muito grata por ter tido a oportunidade de realizar minha pesquisa aqui. Belém tem uma cultura tão rica que se compreende melhor ao vivenciá-la. Tive a oportunidade de trabalhar com uma equipe incrível de pesquisadores que me ensinaram sobre a cultura e história de Belém e me ajudaram em todas as minhas conversas com as mães que entrevistei. Também aprendi muito com todas as mães que participaram deste estudo. Eles me receberam e falaram tão abertamente comigo sobre suas experiências que me senti incrivelmente honrada e agradecida. Saio de Belém motivada para trabalhar com todo o conhecimento que adquiri, e espero ter a oportunidade de voltar um dia em breve.

 

Obrigado Stephanie por compartilhar suas experiências conosco e esperamos também revê-la em breve!


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