Cinco Provas da Evolução das Espécies
Reconstituição facial do gênero Homo. Fonte: Google Imagens |
A Evolução das Espécies
em 05 provas!
Reportagem da UOL descreve algumas provas que contribuíram para que a Teoria da Evolução, protagonizada por Charles Darwin (Wallace e outros teóricos), consiga mensurar de onde viemos, isto é, qual a origem de nosso gênero Homo sapiens sapiens e de que modo esses processos de mudança morfológica (e sociocultural) nos tornaram Humanos, no sentido estrito do termo. A Bioantropologia tem especial interesse em conhecer, acompanhar e divulgar os caminhos que esses especialistas desenvolveram até os dias atuais a fim de elaborar explicações plausíveis que tenham dado lugar aos primórdios de nosso processo de co evolução.
Vamos à matéria!
Por Salvador Nogueira
26/05/14 06:04
Este é um
assunto dos mais controversos: a origem das espécies, desde as bactérias mais
simples até os orgulhosos seres humanos. A razão básica da confusão é que algumas
pessoas querem fazer crer que existe um conflito intrínseco entre a teoria da
evolução pela seleção natural e as religiões. É mentira.
Fósseis do
gênero Homo de 1,8 milhão de anos encontrados na Ásia: nossos parentes
evolutivos.
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Fósseis do
gênero Homo de 1,8 milhão de anos encontrados na Ásia: nossos parentes
evolutivos. A ciência, aliás,
não é inimiga da religião. As duas são naturalmente complementares, e existe
beleza no equilíbrio — admirá-las igualmente pelo que são, tentativas de
contextualizar a existência humana respectivamente nos níveis natural e
espiritual. Uma
diferença importante entre elas é que a ciência, por sua própria natureza, se
propõe a estabelecer (tanto quanto possível) fatos objetivos. Já a religião
fala de “verdades” pessoais. Por isso cada um de nós pode ter suas próprias
crenças, mas temos todos em comum uma única ciência. E também é por isso que
neste texto, daqui em diante, vamos discutir apenas ciência. Começando do
rasinho. Como se produz o conhecimento científico?
A coisa
funciona do seguinte modo: primeiro deparamos com um fenômeno que
desejamos compreender. Pode ser qualquer coisa. Um exemplo simples: como
acontece a chuva? Diante do enigma, parte-se para formular uma hipótese.
Podemos, por exemplo, imaginar que a chuva está ligada à temperatura da água.
Se aquecida, ela vira vapor e sobe. Se resfriada, ela cai de volta no chão.
Certo, temos nossa hipótese. E agora? A ciência dita que precisamos colocar
essa ideia à prova. Testá-la com experimentos e observações.
Podemos
esquentar a água com fogo e notar que, a partir de um determinado momento, ela
começa a subir para o ar, na forma de fumaça. E se aprisionarmos esse vapor
ascendente num recipiente notaremos que, ao entrar em contato com a superfície
mais fria, ele volta a virar líquido. E percebemos que isso acontece também no
mundo lá fora, embora em ritmo bem mais lento. Uma poça d’água desaparece sob a
ação da luz do Sol e volta a se formar quando água cai do céu em forma de
chuva. Grosso modo, a confirmação de nossa hipótese a converte em teoria. Ela
não é mais só um exercício racional de adivinhação. Ela é uma explicação
concreta que nos permite compreender e até mesmo prever fenômenos.
Essa nossa
teoria simples da chuva explica toda a história? Claro que não. Sobre ela
outros cientistas teriam de formular outras hipóteses, que explicam como a água
pode evaporar mesmo que a poça inteira nunca atinja a temperatura necessária,
ou como a água se aglutina em nuvens e o que acontece na atmosfera para fazê-la
se liquefazer e, enfim, chover de volta ao chão. Essas hipóteses serão postas à
prova e gerarão novas teorias, que tornarão nossa compreensão do fenômeno ainda
mais refinada. Mas note que novas teorias não substituem as antigas. Elas
aprofundam o entendimento, sem anular as conclusões obtidas antes.
É a tal
história do Isaac Newton, que ao formular as bases da física moderna se disse
“sobre os ombros de gigantes”. Ele construiu sua obra sobre alicerces sólidos.
A ciência é um muro de tijolos. Novos tijolos são constantemente colocados no
muro. Mas os antigos raras vezes são substituídos. No mais das vezes, eles
continuam formando a parede, que fica cada vez mais alta, permitindo que
enxerguemos cada vez mais longe.
Por isso é
de uma desonestidade intelectual profunda acusar a evolução pela seleção
natural de ser “apenas uma teoria”. Em ciência, uma teoria é o máximo que uma
ideia pode chegar a ser. E ela atinge esse ponto só depois que foi corroborada
por observações e experimentos. Só depois que ela se mostra a melhor explicação
possível para um certo conjunto de dados.
É nesse
contexto que vamos apresentar aqui cinco provas da evolução das espécies. Os
mais atentos talvez queiram criticar meu uso da expressão “provas”, lembrando o
filósofo da ciência Karl Popper, que sugere que observações só podem refutar
teorias, mas nunca prová-las. Concordo com Popper. Mas uso aqui o termo
“provas” no sentido jurídico. Imagine que estamos num tribunal, que julgará a
veracidade da teoria da evolução. O Mensageiro
Sideral se apresenta como promotor, apontando provas circunstanciais
conclusivas. Decerto os opositores apresentarão seus argumentos de defesa nos
comentários abaixo. E o juiz do caso? É você, caro leitor. Leia, reflita e
julgue os fatos.
ANTES DE MAIS NADA, O QUE É A TEORIA DA
EVOLUÇÃO?
Formulada por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace independentemente e apresentada em 1858, ela parte de pressupostos simples e incontestáveis. A primeira premissa é que os seres vivos de uma determinada espécie, por mais parecidos que sejam, apresentam, naturalmente, pequenas diferenças entre si. Isso é mais do que evidente. Basta olhar ao seu redor. Somos todos humanos, mas cada um é um pouquinho diferente do outro. Um mais baixo, um mais alto, um loiro, um moreno, e assim por diante.
A
segunda premissa é que os seres vivos podem transmitir essas pequenas
diferenças que os caracterizam a seus descendentes. E isso também é mais do que
evidente. Por isso filhos de morenos são morenos, filhos de altos são altos, e
por aí vai.
A
terceira — e crucial — premissa é que, no mundo natural, algumas características são mais
vantajosas que outras. Hoje, na população humana, isso não é muito evidente.
Mas ainda acontece. Um exemplo: um pequeno número de pessoas na África parece
ser imune ao HIV. Muitos esforços têm sido feitos pelos médicos para reduzir o
impacto que o vírus da Aids tem na mortalidade humana, mas imagine um mundo sem
medicamentos. O que aconteceria na África? Os que não resistem ao HIV
morreriam, em muitos casos sem deixar descendentes. Os imunes sobreviveriam e
teriam mais filhos. Ao longo das gerações, aumentaria a porcentagem de pessoas com imunidade
natural ao HIV. Isso
é seleção natural. É a pressão que a natureza exerce para selecionar certas
características e eliminar outras.
Pois
bem. Até aí, absolutamente nada de controverso. O salto que Darwin e Wallace
deram foi partir dessas premissas e concluir que, ao longo de períodos muito
grandes de tempo, esse processo de seleção natural poderia produzir novas
espécies a partir de um ancestral comum. Como eles chegaram a essa conclusão?
Observando o mundo natural. Note, por exemplo, o clássico exemplo apresentado
pelo próprio Darwin, ao refletir sobre os tentilhões — grupo de espécies de
pássaro — das ilhas Galápagos, que o naturalista estudou pessoalmente ao passar
pela América do Sul, em 1835. Ele notou que cada ilha do arquipélago tinha suas
próprias espécies de tentilhões, cada uma com um formato de bico próprio.
Como explicar
isso? Darwin imaginou que todos eles tinham um ancestral comum. Separados em
suas respectivas ilhas, eles enfrentaram ambientes naturais ligeiramente
diferentes, que por sua vez selecionariam características diversas. Ao fim de
milhões de anos, terminamos com espécies diferentes de tentilhão.
O mesmo
raciocínio pode ser aplicado a toda a vida na Terra, e foi o que Darwin e
Wallace fizeram. Se imaginarmos que todos os seres vivos atuais têm um
ancestral comum separado de nós por cerca de 4 bilhões de anos de seleção
natural, temos uma explicação para a origem de todas as espécies. Uma
explicação que é passível de teste. E que foi testada e corroborada de forma
contundente, como veremos a seguir.
Um senão
importante é que a teoria diz respeito exclusivamente à origem das espécies. Ou
seja, como, a partir de uma única forma de vida, acabamos com uma biosfera tão
incrível e diversa como a nossa. A teoria nada fala sobre a origem da vida em
si. Como o primeiro ser vivo submetido ao processo de seleção natural veio a
ser é outro mistério, um que ainda não tem uma solução científica clara (embora
diversos caminhos promissores já se insinuem a esse respeito).
PROVA NÚMERO
UM – O DNA
Manja teste de DNA, aquele usado corriqueiramente para determinar paternidade de bebês? Você acredita nele? Pois bem. Hoje temos tecnologia para comparar o DNA não só de humanos diferentes, mas de diversas espécies diferentes. Essa análise revela que todos os seres vivos que já investigamos têm algum grau de parentesco com todos os demais. Trata-se de uma confirmação incrível da teoria da evolução pela seleção natural. Tão contundente como um teste de paternidade diante de um juiz de família.
A história da evolução está escrita no DNA. É só saber ler. |
É interessante notar que, no tempo de Darwin, o DNA nem era conhecido, muito menos seu papel na transmissão das informações genéticas. Ele e Wallace estavam tateando às escuras, por assim dizer. Quando o DNA foi descoberto e, mais tarde, aprendemos a “lê-lo”, ele poderia ter refutado completamente a evolução. Bastaria para tanto que os organismos tivessem genes tão diferentes entre si que não se estabelecesse grau de parentesco entre eles.
Contudo, não
foi o que se observou. Se olharmos para o DNA humano e compararmos com o do
chimpanzé, descobrimos que a diferença entre eles é de cerca de 4%. Ou seja, a
receita para a fabricação de um chimpanzé é, em 96%, idêntica à que produz um
ser humano. O que isso significa, que nós evoluímos dos macacos? Claro que não!
A afirmação de que o homem veio do chimpanzé está errada. Tanto o homem como o
chimpanzé evoluíram de um ancestral comum, que não era nem uma coisa, nem
outra.
O mesmo
exercício pode ser feito entre outras espécies, com resultado similar. Também
temos um ancestral comum com os camundongos. E com os répteis. E com os
insetos. E com as plantas. E com as bactérias. E com todo mundo que já
analisamos até hoje. O que nos leva ao motor da evolução por seleção natural —
as mutações.
PROVA NÚMERO
DOIS – MUTAÇÕES
Hoje conhecemos bem os mecanismos que existem no interior de cada célula para replicar o DNA. Há um sistema integrado de monitoramento e correção que tenta identificar falhas na replicação e impedir que elas se perpetuem — se preciso for, induzindo o próprio suicídio celular. No entanto, sabemos também que esse sistema não é à prova de falha. De vez em quando, pequenas mudanças passam. Acontece direto. Nas suas células. Agora. Na maior parte das vezes, ocorre em trechos do DNA que não codificam informação genética, e aí pode não haver consequência nenhuma. Se acontecem num pedaço de DNA que tem informação importante, podem produzir efeitos bem sérios. Na maior parte das vezes, esses efeitos são ruins — o câncer é resultado de mutações em células, alterações que atingem justamente o sistema que induz ao suicídio celular quando há falhas de replicação do DNA. As células saem de controle e se multiplicam sem parar, às custas do resto do organismo. Contudo, em alguns casos, as mutações podem produzir manifestações que não incapacitam a pessoa. E, claro, quando acontecem nas células germinativas, precursoras de espermatozoides e óvulos, elas não afetam o sujeito em si, mas afetarão a geração seguinte — para o bem ou para o mal.
Isso não é
ficção ou especulação. É fato. Note que os seres humanos diferem entre si no
seu DNA em cerca de 0,5%. Ou seja, meu genoma é diferente do seu por essa
quantidade. A maioria dessas diferenças consiste em mudanças em uma única
letra, o que os cientistas chamam de SNPs (polimorfismos de nucleotídeo único,
ou, mais simpático, “snips”). Sabendo que isso acontece e que a vida tem quase
4 bilhões de anos na Terra, o difícil é inventar um mecanismo que impeça a
evolução. É muito mais complicado termos espécies estáticas, imutáveis, do que
espécies em eterna transmutação ao longo das eras geológicas, movidas por
mudanças pequenas e graduais. Bem, mas se essas mudanças foram graduais, não
deveríamos ter formas intermediárias entre os animais vivos hoje? Claro que
deveríamos! E temos! Basta olhar os fósseis.
PROVA NÚMERO
TRÊS – FÓSSEIS
Na época de Darwin, os fósseis já estavam na moda, embora fossem poucos e incompreendidos. Foi justamente naquele tempo que começaram a ser identificados os primeiros dinossauros. Sabemos hoje com base em evidências geológicas concretas que eles viveram entre 230 milhões e 65 milhões de anos atrás. E uma olhada neles revela o que a evolução é capaz de fazer ao longo de períodos imensos de tempo.
Sabemos, por
exemplo, que as aves modernas têm como ancestrais dinossauros terópodes. E como
podemos saber disso? Além de observarmos características similares entre os
ossos de um grupo e de outro, há algumas espécies extintas que parecem uma
exata mistura dos dois. Pegue o arqueoptérix, por exemplo, que viveu cerca de
150 milhões de anos atrás. Ele é metade ave, com penas capazes de voo e asas, e
metade dinossauro, com dentes e tudo. Tanto dinossauros como aves são as únicas
criaturas que têm aquele famoso “ossinho da sorte”. E uma análise de proteínas
remanescentes de uma coxa de tiranossauro mostrou em 2005 que o colágeno dos
músculos do bichão é muito parecido com o das galinhas modernas. São provas
incontestes do processo evolutivo.
Fóssil de
arqueoptérix, metade-ave, metade-dinossauro. Ele viveu há 150 milhões de anos.
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Fóssil de
arqueoptérix, metade-ave, metade-dinossauro. Ele viveu há 150 milhões de anos.
E toda a
árvore da vida está cheia dessas formas intermediárias, hoje extintas. Diversos
hominídeos descobertos mostram um aumento crescente da caixa craniana de nossos
ancestrais. Obviamente, aumento de cérebro (e de inteligência) foi favorecido
pela seleção natural, o que explica o processo.
É verdade
que não existe na Terra nenhuma espécie viva mais inteligente que a nossa. Mas
isso não quer dizer que exista um abismo intransponível entre nós e nossos
parentes no reino animal, em termos de comportamento.
PROVA NÚMERO
QUATRO – COMPORTAMENTO ANIMAL
Costuma-se fazer uma distinção clara entre humanos e o resto do reino animal. Nós seríamos inteligentes, sofisticados, capazes de abstrações, conscientes de nós mesmos. Os demais não teriam consciência de si mesmos e seriam estúpidos. Essa distinção é puro preconceito. A teoria da evolução por seleção natural sugere que essa escalada da inteligência e da consciência deveria ser um aclive suave, e não uma divisão abrupta. Se os evolucionistas estivessem errados, encontraríamos mesmo esse abismo. Mas os etólogos (estudiosos do comportamento animal) encontram cada vez mais evidências de que muitos dos atributos originalmente concedidos só aos humanos estão presentes no reino animal.
Veja os
chimpanzés mesmo. Eles são menos espertos que os humanos, fato, mas ainda assim
são bem espertos. E fazem coisas que, até outro dia, achávamos que fossem
exclusividades nossas. Chimpanzés não falam, mas são capazes de aprender
linguagem de sinais e conseguem comunicar ideias simples. Constroem e usam
ferramentas rudimentares. Seu nível de inteligência para o uso de ferramentas é
comparável ao de uma criança de cinco anos! Gostam de montar quebra-cabeças só
por diversão, como nós. Conseguem contar até 40 e fazer operações aritméticas
simples. E são capazes de algum nível de empatia. Não são animais estúpidos.
São mais parecidos conosco do que gostaríamos de admitir. Não há vergonha
nenhuma em ser primo dos chimpanzés. Apesar daquela mania horrível de jogar
cocô nos outros, eles são legais e representam nosso elo mais próximo na imensa
corrente da vida na Terra.
Mais parecidos conosco do que alguns gostam de admitir. Mas DNA não mente. |
Apesar
disso, seguimos caçando-os sem dó. Limitados à África, eles estão ameaçados de
extinção. Estima-se que existam cerca de 150 mil chimpanzés em liberdade na
natureza hoje. Humanos, são 7 bilhões. E subindo. Não é impensável que nossos
parentes mais próximos passem à categoria de fósseis em pouco tempo. A situação
dos gorilas, que também estão perto de nós evolutivamente, é ainda mais
dramática. Seleção natural na sua forma mais cruel. Nossa inteligência, mal
empregada, está os destruindo. A troco de nada. Quem é o inteligente mesmo?
PROVA NÚMERO
CINCO – PSEUDOGENES
Os chimpanzés e gorilas podem sumir, mas a vida é um contínuo, graças à evolução. Em meio ao DNA dos mais de 7 bilhões de humanos, existem pedaços de genes de nossos ancestrais comuns, inativos, mas ainda lá. Esse talvez seja a maior evidência de evolução já encontrada. As mutações por vezes desativam genes não essenciais, tornando-os não funcionais sem inviabilizar a vida do indivíduo e a passagem da modificação à próxima geração.
Aí esses
chamados pseudogenes continuam guardados no genoma, mas não servem para grande
coisa no organismo. Viram algo como um “museu da vida”, guardado no interior
das nossas células. Além de permitirem que, ao lermos suas sequências, possamos
traçar com precisão nossa ancestralidade evolutiva, eles servem como uma
“reserva” para o futuro da evolução. Especula-se que genes inativos possam, com
novas mutações, tornarem-se ativos novamente, produzindo características
novas que se submetam à seleção natural.
Os
cientistas mais ousados, por exemplo, especulam sobre a possibilidade de
reconstruir os genomas de dinossauros extintos “pescando” pseudogenes em seus
descendentes — as aves modernas — e reativando-os. Díficil? Sem dúvida. Talvez
até impossível para essas criaturas, que sumiram há 65 milhões de anos. Mas
pode ser uma estratégia viável para trazer os mamutes, extintos há 12 mil
anos, de volta à vida. São incríveis perspectivas que só se abrem porque a
evolução é um fato.
O RESUMO DA ÓPERA
Como se pode ver, a evolução por seleção natural é uma teoria que explica muita coisa. Ela poderia ser superada por outro paradigma científico no futuro? Em tese sim. Mas onde está esse paradigma?
Alguns dizem
que a melhor explicação para a diversidade da vida seja o que eles chamam de
Design Inteligente — a ideia de que a vida é sofisticada demais para que suas
incríveis nuances fossem produzidas pela seleção natural, e que somente uma
consciência superior poderia ter produzido os seres vivos terrestres,
individualmente, espécie por espécie.
Certo. É uma
hipótese. Vamos testá-la? Se o Design Inteligente estiver certo, não devemos
encontrar parentesco claro entre todas as espécies estudadas ao investigar seu
DNA. Afinal de contas, se cada uma delas foi individualmente projetada por uma
inteligência superior, não haveria razão para termos, por exemplo, distribuição
similar dos genes pelos cromossomos em diferentes espécies. Aliás, deveríamos
encontrar distribuições bem diferentes, otimizadas para cada forma de vida. Não
é o que vemos.
Outra
conclusão que advém da hipótese do Design Inteligente é que as diferenças
entre as espécies não podem ser usadas para estimar a época em que elas
divergiram (até porque, pelo Design Inteligente, elas nunca teriam divergido
para começar, tendo sido criadas individualmente). Em resumo, deveria haver
profundo desacordo entre estimativas da época da especiação feitas com base na
genética e o registro fóssil. Nos casos estudados até agora, vemos que há
acordo razoável. A genética sugere, por exemplo, que o ancestral comum entre
humanos e chimpanzés viveu entre 5 milhões e 7 milhões de anos atrás. Os
fósseis de formas intermediárias suportam essa estimativa. A australopiteca
Lucy, por exemplo, que seria posterior à divergência, viveu cerca de 3,2
milhões de anos atrás. Ótimo encaixe com a teoria da evolução, péssimo para a concorrência.
Aliás, os
fósseis em geral apresentam um desafio intransponível para o Design
Inteligente. Porque eles revelam não só a época em que certas espécies foram
extintas, mas também a época em que certas espécies apareceram. E vemos que as
espécies surgem paulatinamente, num processo contínuo, ao longo de bilhões de
anos. O Designer passou todo esse tempo por aqui, introduzindo uma a uma as
novas espécies? E, curiosamente, adotou um ritmo de introdução das espécies
exatamente compatível com o que seria produzido pela evolução por seleção
natural, segundo nossas estimativas de mutações?
Outra coisa:
por que o Designer usou formas intermediárias nesse processo? Por que ele teve
de produzir Homo habilis, Homo erectus e Homo ergaster
antes de fazer o glorioso Homo sapiens? Fosse uma criação inteligente e
projetada sob medida, não precisaria de formas intermediárias. Só a evolução
explica esse processo.
Por fim, uma
conclusão possível do Design Inteligente é que espécies modernas seriam
tão boas e adaptadas quanto possível. Existe espaço para aperfeiçoamento na
biologia terrestre? Ô se existe. Outro dia, um grupo de pesquisadores inseriu
nanocápsulas em células de plantas e melhorou o rendimento da fotossíntese em
30%. E nós, humanos, supostamente o supra-sumo, temos um apêndice, cuja única
função parece ser causar apendicite, e os dentes do siso, que precisam ser
extraídos na maior parte de nós porque não nos cabem na boca. Que diabo de
projeto inteligente é esse? Por que temos órgãos vestigiais? Por que o Designer
se deu ao trabalho de disfarçar toda a biosfera para fazer que ela evoluiu, se
esse não foi o caso?
O Design
Inteligente não explica nada. Nem de longe. E a evolução já tem evidências
demais para que a descartemos como uma infeliz coincidência. Vamos aos fatos:
entre nós e os chimpanzés, 96% de identidade no DNA. Se você prefere acreditar
que nós e eles fomos criados separadamente por um Designer, tem de se perguntar
por que esse Criador quis fazer você exatamente como se fosse primo dos
macacos.
Deixo,
afinal, uma pergunta para reflexão. Qual é o Designer mais inteligente: aquele
que constrói um relógio automático, liga-o e vê, satisfeito, como cada ponteiro
avança sozinho no momento preciso para marcar o tempo, ou aquele que constrói
um relógio e fica, em sua paciência infinita, empurrando os ponteiros com o
dedo a cada segundo para mantê-lo sempre marcando a hora certa?
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