Pesquisadora Mariana Inglez Defende Tese no Campo da Bioantropologia no IB-USP

 

Comunidade Ribeirinha em Caxiuanã. Acervo: LEBIOS.

No dia 4/7/2024 realizou-se de modo híbrido, a partir da Sala da Congregação do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), a defesa da tese de doutoramento da pesquisadora Mariana Inglez intitulada: Transição nutricional em comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira: “escolhas” entre alimentos tradicionais e industrializados na região de Caxiuanã, Pará, Brasil. Participaram da banca examinadora a Profa. Dra. Catalina Ignacia Fernández Hernández, do Department of Human Behavior, Ecology and Culture do Instituto Max Planck for Evolutionary Anthropology, Alemanha, o Prof. Dr. Guilherme Moura Fagundes, do Departamento de Antropologia da FFLCH, USP , e o Prof. Dr. Hilton P. Silva, do PPGA, como titulares, e a Profa. Dra. Gabriela Arrifano, atualmente docente colaboradora do PPGA, como uma das suplentes. O orientador foi o Prof. Dr. Rui Murrieta, do Instituto de Biociências.

Ao longo de sua pesquisa Mariana já esteve diversas vezes no Laboratóro de Bioantropologia do PPGA, que serviu como base na UFPA para suas atividades de campo em Caxiuanã, e participou de atividades do LEBIOS (http://bioantropologiaufpa.blogspot.com/2022/04/bioantropologia-pesquisa-e-saude-em.html). A tese revisita comunidades da Floresta Nacional de Caxiuanã (FLONA) que participaram de pesquisas realizadas pela Profa. Dra. Barbara Piperata, da OSU, nos anos 2000, e também pelo Coordenador do LEBIOS, em 1996-97. Embora enfocando aspectos diferentes, essas pesquisas, que formam parte das teses dos três investigadores, analisam, a partir de uma perspectiva bioantropológica, os impactos das mudanças socioecológicas nas populações locais ao longo de quase meio século, e mostram os impactos da ausência de políticas públicas efetivas na área, que inclui a Floresta Nacional de Caxiuanã, uma importante Unidade de Conservação no Pará.

Mariana analisou aspectos bioantropológicos e nutricionais de populações de Caxiuanã entre os anos 2019 e 2023. A tese em breve estará disponível no site de teses do IB e deverá gerar diversas publicações relevantes.

Parabéns Mariana por mais esta conquista!
 
Resumo

Inglez, M. (2024). Transição nutricional em comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira: “escolhas” entre alimentos tradicionais e industrializados na região de Caxiuanã, Pará, Brasil. Tese de Doutorado em Biologia Genética. Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo.

A substituição de dietas tradicionais por dietas baseadas em alimentos processados, mais rica em energia e pobre em nutrientes, rica em açúcar, gorduras de origem animal, somada ao aumento do sedentarismo, tem resultado no maior risco às doenças crônicas não transmissíveis. Este processo, conhecido como Transição Nutricional tem impactado drasticamente a saúde humana em todo o mundo, particularmente nas populações mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico. Pesquisas anteriores (2002-2009) encontraram evidências da Transição Nutricional em comunidades ribeirinhas da região da Floresta Nacional de Caxiuanã, Pará, e foram motivadoras das perguntas desse trabalho. O que teria acontecido, do ponto de vista nutricional, 20 anos depois dos primeiros estudos com as famílias de Caxiuanã? Entre os anos de 2019 e 2023, retornei às mesmas comunidades para documentar o fenômeno da Transição Nutricional a longo prazo, registrando mudanças na dieta e no status nutricional dessas populações, buscando responder quais seriam os impulsionadores desse processo hoje. A documentação e análise do processo de Transição Nutricional são fundamentais não apenas para a macro escala dos rumos da saúde humana globalmente, como para a compreensão das particularidades na microescala de contextos específicos como o de populações ribeirinhas. Disso depende o desenvolvimento de políticas e programas mais eficientes para promoção de saúde e qualidade de vida nessas comunidades rurais amazônicas. Adotando uma abordagem biocultural e decolonial, foram coletados e analisados dados via observações etnográficas e diário de bordo, entrevistas socioeconômicas e sobre consumo de alimentos, além de medidas antropométricas. As diferentes metodologias e abordagens empregadas possibilitaram o registro de alguns padrões esperados para uma população em transição nutricional, mas com especificidades associadas às dinâmicas locais – tanto no que diz respeito à rotina e estilo de vida no bioma amazônico, quanto resultantes das relações de poder internas e externas (como Estado-Igreja). Análises estatísticas indicam que entre 2002-2021, o status nutricional das mulheres foi mais afetado, com a maior parcela dessa população encontrando-se com risco aumentado às doenças crônicas, embora para a toda a população tenha sido observado ganho de peso. As entrevistas e observação durante a vivência nas comunidades também permitiu documentar o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados que, mesmo passados 20 anos desde o início do registro da Transição Nutricional nessas comunidades, não substituíram completamente a dieta tradicional ribeirinha. Finalmente, pude registrar o contexto de insegurança alimentar continuado, e sua associação com evidências de negligência e ausência do Estado. Foram identificadas intervenções em alimentação e saúde inadequadas quanto às orientações aceitas pelos órgãos de saúde e nutrição, e efeitos das mudanças climáticas no acesso aos alimentos. Nesse sentido, esse estudo corrobora a tese de que populações racializadas, no Brasil e no mundo, sofrem o nutricídio somado a outras formas que levam ao seu extermínio.

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