Paleoproteômica lança novas luzes sobre a evolução humana ao sustentar distanciamento da espécie Homo antecessor em relação ao Homo sapiens, Neanderthais e Denisovanos.


Um dente originado do conjunto de restos fossilizados quebrados e fraturados de seres humanos arcaicos encontrados na Serra de Atapuerca, Espanha, em 1994, que pertencem a espécie Homo antecessor, forneceram agora uma nova perspectiva para o panorama do parentesco das diferentes espécies de hominíneos que viveram no passado. Em estudo publicado recentemente na revista Nature (1º de abril), pesquisadores dinamarqueses e espanhóis sequenciaram proteínas retiradas do esmalte dentário de um exemplar de H. antecessor datado em 800.000 anos. Esta é a amostra material genético de humanos mais antiga a ser submetida a análise até o momento.

O código genético identificado na pesquisa foi então comparado com dados genéticos de dentes humanos mais recentes e outros hominíneos, permitindo os autores identificar a associação da espécie H. antecessor como potencialmente o último ancestral comum do ramo evolutivo que levou aos Homo sapiens, Neandertais e Denisovanos. Os pesquisadores concluíram que o antecessor se refere, na verdade, a uma “espécie irmã” de outra espécie com a qual Homo sapiens, Neandertais e Denisovanos possuem parentesco em comum.

Estes estudos de paleoproteômica (proteínas antigas) possibilitam novas descobertas, de uma forma mais acessível do que as análises de DNA uma vez que as proteínas se conservam por mais tempo aos efeitos tafonômicos. Embora este estudo tenha sido realizado com apenas um dente, espera-se que a falta de evidências fósseis seja sanada em breve, para uma maior aplicação da paleoproteômica em futuros estudos, uma vez que este é um método promissor para investigações do nosso passado, cujas compreensões se reformulam a cada nova investida científica.

Ruan Carlos Neris do Carmo

Fontes:

Welker, F., Ramos-Madrigal, J., Gutenbrunner, P. et al. The dental proteome of Homo antecessor. Nature 580, 235–238 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2153-8

Abstract

The phylogenetic relationships between hominins of the Early Pleistocene epoch in Eurasia, such as Homo antecessor, and hominins that appear later in the fossil record during the Middle Pleistocene epoch, such as Homo sapiens, are highly debated. For the oldest remains, the molecular study of these relationships is hindered by the degradation of ancient DNA. However, recent research has demonstrated that the analysis of ancient proteins can address this challenge. Here we present the dental enamel proteomes of H. antecessor from Atapuerca (Spain) and Homo erectus from Dmanisi (Georgia), two key fossil assemblages that have a central role in models of Pleistocene hominin morphology, dispersal and divergence. We provide evidence that H. antecessor is a close sister lineage to subsequent Middle and Late Pleistocene hominins, including modern humans, Neanderthals and Denisovans. This placement implies that the modern-like face of H. antecessor— that is, similar to that of modern humans — may have a considerably deep ancestry in the genus Homo, and that the cranial morphology of Neanderthals represents a derived form. By recovering AMELY-specific peptide sequences, we also conclude that the H. antecessor molar fragment from Atapuerca that we analysed belonged to a male individual. Finally, these H. antecessor and H. erectus fossils preserve evidence of enamel proteome phosphorylation and proteolytic digestion that occurred in vivo during tooth formation. Our results provide important insights into the evolutionary relationships between H. antecessor and other hominin groups, and pave the way for future studies using enamel proteomes to investigate hominin biology across the existence of the genus Homo

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