A importância de estudar Bioarqueologia na Amazônia - Entrevista com o Prof. Dr. Tiago Tomé
Prof. Dr., Tiago Tomé durante evento do PPGA/UFPA Foto e Entrevista: Ariana da Silva |
O Prof. Dr. Tiago Tomé*, que irá ministrar a disciplina de Bioarqueologia no Programa de Pós Graduação em Antropologia em Março de 2015, concedeu entrevista ao Blog Bioantropologia na Amazônia, relatando a importância de entender os estudos humanos partindo de contextos arqueológicos de vestígios biológicos e culturais de nossa espécie.
Tiago Tomé é Professor Visitante do PPGA/UFPA e atualmente compõe o quadro de docentes da instituição.
1. Qual a importância dos estudos da Bioarqueologia?
A
Bioarqueologia representa uma área de interface entre as Ciências Humanas e as
Ciências Biológicas, com uma visão biocultural do estudo das comunidades
humanas do passado. Constitui por isso um programa de pesquisa multidisciplinar
e que permite integrar os dados da osteologia humana com as informações
contextuais resultantes do conhecimento arqueológico e antropológico na
abordagem a vários temas, como por exemplo as práticas funerárias, a
organização social, atividades quotidianas, divisão do trabalho, demografia de
populações pretéritas, migrações, dieta, doenças… Tem por objetivos documentar
tendências adaptativas de nossa espécie ao meio-ambiente e contribuir para a
compreensão das grandes mudanças ocorridas durante a evolução de nossa espécie
e do povoamento humano pelo mundo. É
por isso um campo que pode ser extremamente vasto e que pode constituir uma
fonte muito rica de informações e dados para a interpretação arqueológica e
antropológica.
2. Em que consiste a disciplina?
A
disciplina de Bioarqueologia terá como principal objetivo fornecer aos alunos
uma visão introdutória geral da atuação em esse campo disciplinar. Além de um
histórico do conceito de Bioarqueologia e da evolução dessa área de estudos, abordaremos
os princípios metodológicos fundamentais referentes ao registro, coleta e
análise dos remanescentes ósseos humanos recuperados de contexto arqueológico.
Teremos uma visão geral da anatomia do esqueleto humano e dos principais dados
que podemos obter a partir de seu estudo, nomeadamente ao nível das práticas
funerárias, da demografia, morfologia e paleopatologia. Fundamentalmente,
o objetivo da disciplina será de que, no final, os alunos consigam ter uma boa noção
do potencial informativo dos remanescentes ósseos em contexto arqueológico.
3. Qual a sua principal linha de investigação na atualidade?
Durante os últimos anos, meu foco tem sido sobre contextos funerários pré-históricos de Portugal e Espanha, sobre os quais me encontro ainda desenvolvendo alguns estudos e preparando algumas publicações. Presentemente, estou trabalhando para estabelecer uma linha de trabalho em torno da Bioarqueologia na região amazônica.
4. Qual o seu interesse em dialogar com os pesquisadores da Amazônia, do
PPGA?
Bom, a Amazônia tem um duplo interesse em minha perspetiva; desde logo, a pesquisa em Bioarqueologia está apenas agora dando os primeiros passos na região, pelo que existe com certeza muita coisa esperando para ser feita – e muitas coisas que eu próprio ainda desconheço que existem, uma vez que também cheguei há muito pouco tempo na região. Além disso, em termos da Antropologia Biológica (e em uma perspetiva mais atualista), essa é uma das poucas regiões do globo onde ainda podemos encontrar comunidades tradicionais, com relativamente poucas influências da sociedade industrializada. Esse aspeto, além de permitir desenvolver análises sobre sujeitos vivos com características de adaptação e relação com o meio-ambiente que, na maior parte do território mundial já desapareceram, nos dá também uma responsabilidade acrescida: a de registrar essas informações em comunidades que, muito provavelmente, em poucas gerações sofrerão mudanças ambientais e culturais profundas em seus modos de vida, mudanças essas que terão seguramente implicações biológicas.
Bom, a Amazônia tem um duplo interesse em minha perspetiva; desde logo, a pesquisa em Bioarqueologia está apenas agora dando os primeiros passos na região, pelo que existe com certeza muita coisa esperando para ser feita – e muitas coisas que eu próprio ainda desconheço que existem, uma vez que também cheguei há muito pouco tempo na região. Além disso, em termos da Antropologia Biológica (e em uma perspetiva mais atualista), essa é uma das poucas regiões do globo onde ainda podemos encontrar comunidades tradicionais, com relativamente poucas influências da sociedade industrializada. Esse aspeto, além de permitir desenvolver análises sobre sujeitos vivos com características de adaptação e relação com o meio-ambiente que, na maior parte do território mundial já desapareceram, nos dá também uma responsabilidade acrescida: a de registrar essas informações em comunidades que, muito provavelmente, em poucas gerações sofrerão mudanças ambientais e culturais profundas em seus modos de vida, mudanças essas que terão seguramente implicações biológicas.
Por
outro lado, a própria génese da Bioarqueologia é muito influenciada pela
Antropologia “de quatro campos”, uma vez que se propõe integrar em seu programa
os dados da Antropologia Biológica com as informações da Arqueologia e da
Antropologia Social (e por vezes, ainda que seja menos habitual, igualmente da
Linguística). Essa é também a filosofia que embasa o PPGA, pelo que espero
desenvolver formas de articulação com os pesquisadores das demais áreas do
Programa e também assim contribuir para as pesquisas que eles desenvolvem.
5. Uma mensagem de incentivo à pesquisa Bioarqueológica...
A
pesquisa em Bioarqueologia é um campo bem vasto e que possibilita a integração
de especialistas em áreas muito diversas. Pode por isso representar um fórum muito
estimulante de intercâmbio de informação entre campos disciplinares que nem
sempre se comunicam de forma estreita. É por excelência a sub-disciplina ligada
com a Arqueologia que nos coloca literalmente “cara-a-cara” com nossos
antepassados e que nos permite saber mais sobre os “atores” do passado, as
pessoas que o construíram, que o vivenciaram. Além
disso, é um campo relativamente inexplorado no Brasil, em particular em algumas
regiões do país, pelo que com certeza existirão oportunidades de pesquisa
interessantes esperando por nós.
*Maiores detalhes
nos links abaixo:
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