O Papel da Carne na Evolução Humana
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Por Natalia
Cuminale e Marina Dias
Entre as
razões para defender o fim da ingestão de carnes, os vegetarianos apresentam
uma apoiada na história de nossa espécie: o consumo desse item não é mais vital
ao ser humano, como foi para nossos ancestrais. Não estão errados ao apresentar
esse argumento. Cabe lembrar, contudo, que a carne de fato teve papel
fundamental na evolução.
O consumo
dos produtos de origem animal pode ter contribuído para o crescimento acelerado
da massa cerebral humana, devido à grande quantidade de nutrientes e proteínas
encontrada ali, explica Rui Murrieta*, professor de Antropologia do Departamento
de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de
São Paulo (USP). A dieta dos antigos não era exclusivamente carnívora: a
alimentação era mais parecida com a dos grandes macacos, que comiam frutas,
tubérculos e sementes. "A carne era um complemento à alimentação diária,
obtida por meio da rapinagem (apropriação da caça de outros predadores) ou da
caça de pequenos animais", diz.
Murrieta
explica que a carne não é mais indispensável à espécie porque, atualmente,
podemos obter uma alimentação rica em proteína a partir de outras fontes.
"Nossos ancestrais distantes não sabiam plantar, não tinham conhecimento e
nem recursos para obter proteína e nutrientes necessários: até 10.000 ou 12.000
anos atrás, antes da revolução agrícola, éramos caçadores e coletores",
conta o professor.
O homem
possui um sistema digestivo onívoro - um modelo que se localiza entre o do leão
e o da vaca, em termos evolutivos -, capaz de digerir a carne com muita
eficiência. Por outro lado, ele é capaz de se adaptar facilmente a uma dieta
vegetariana.
Prazeres
da carne - Não é
possível precisar o momento exato em que o homem passou a ingerir carne, diz a
antropologia. Porém, é provável que nossos ancestrais tenham começado a
consumir o produto há pelo menos dois milhões de anos. As ferramentas usadas na
época, descobertas por escavações arqueológicas, deixam claro que era possível
esmagar ossos e aproveitar o tutano - substância de alta concentração de
gordura encontrada dentro dos ossos e rica em nutrientes.
"Mesmo
sem esse tipo de ferramenta, é possível que nossos ancestrais já tivessem carne
em suas dietas há 4 ou 5 milhões de anos", afirma Murrieta. "Os
babuínos, por exemplo, caçavam sem uso de pedra. A ferramenta seria utilizada
para esmagar os ossos e consumir o tutano, mas não precisava ser
necessariamente lascada", relata. Outra informação importante que vem do
passado e sugere que a carne fazia parte do prato na Pré-história: nossos
ancestrais possuíam muito mais força no aparato dentário, o que facilitava a
mordida e não exigia necessariamente o corte.
Mais informações no site:
* Lattes do Prof. Rui Murrieta:
A respeito dos processos de Nutrição na Amazônia, Rui Murrieta publicou na Revista de Antropologia: "O dilema do papa-chibé: consumo alimentar, nutrição e práticas de intervenção na Ilha de Ituqui, baixo Amazonas, Pará".
ISSN 0034-7701
Rev.
Antropol. vol.41 n.1 São Paulo 1998
doi:
10.1590/S0034-77011998000100004
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