Bioantropologia no Seminário "Antropologia em Foco V"- ICED/UFPA
Os discentes da área de Bioantropologia: a Doutoranda Ligia Amaral Filgueiras, a Doutoranda Ariana Kelly L S da Silva, o Doutorando Santiago Volney, o Mestrando Mariluzio Moreira e a Mestranda Eliene Rodrigues Putira Sacuema (Putira Baré), do Programa de Pós Graduação em Antropologia, Universidade Federal do Pará, entre os dias 13 a 15 de Junho de 2016, no Auditório do ICED/UFPA, participaram do Seminário Antropologia em Foco V (AFV), apresentando as suas respectivas pesquisas como "Comunicação Oral". O AFV teve como tema o "Fazer Antropológico na Ecologia de Saberes" e é um evento direcionado aos discentes do PPGA/UFPA, aberto ao público, que visa socializar discussões nos quatro campos da Antropologia.
Os temas, resumos e apresentações seguem abaixo, respectivamente:
A Doutoranda Ligia Filgueiras durante apresentação de "Comunicação Oral" no AFV - Foto: Roseane Bittencourt. |
Título: "Crescimento e Saúde de Crianças em Áreas Protegidas da Amazônia e a Necessidade de Políticas Públicas".
Nome: Lígia Amaral Filgueiras
Co-Autores: Hilton P. Silva; Edson Marcos Leal
Soares Ramos
Área de Concentração: Bioantropologia
Linha de Pesquisa: Socioecologia da Saúde e da Doença
*Pesquisa em Andamento
Resumo:
A Amazônia tem a
maior biodiversidade terrestre do mundo, porém continua sofrendo graves problemas ambientais devido à exploração
inadequada de seus recursos. As populações humanas tradicionais que vivem
nessas áreas são consideradas vulneráveis, especialmente as crianças e sofrem
pela carência de políticas adequadas às suas necessidades. Este estudo tem como
objetivo conhecer a situação da saúde das crianças de áreas protegidas
ecologicamente diferentes na região: Floresta Nacional de Caxiuanã (PA),
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM) e sete comunidades
Quilombolas (África/Laranjituba, Santo Antônio, Mangueiras, Mola, Oriximiná,
Trombetas e Abacatal - PA). Foram analisadas 371 crianças (182 meninas, 189 meninos)
de 5 a 9 anos de idade. Constatou-se que as crianças de Caxiuanã, Mamirauá e
Mola apresentam considerável déficit de altura/idade (26,15% e 17,9% e 35,72%, respectivamente).
A diferença entre os grupos foi significativa (p = 0,018). Por outro lado, o
Teste de Tukey indica que as crianças de Caxiuanã estão em pior situação com
relação a peso/idade. Em geral, todas as comunidades carecem de saneamento
ambiental, água encanada, e as famílias vivem em habitações precárias, inclusive
sem banheiros ou sanitários, influenciando nos altos níveis de parasitismo
intestinal, infecções de pele e outras doenças. O acesso à serviços de saúde
geralmente é difícil devido às distâncias entre as casas e os centros de saúde,
pois o principal meio de transporte são pequenos barcos a motor, lentos e que
cobram caro. Geografica e politicamente, a região Amazônica é vasta e de difícil
gerenciamento, porém, apesar de alguns avanços nas políticas sociais, se não
houver melhorias na atenção do Estado, em todos os setores, as crianças continuarão
distante dos parâmetros de crescimento internacionais no Século XXI. É
necessário que sejam implementados programas e políticas de saúde mais adequados à realidade das crianças da Amazônia, para que venham
a se tornar adultos saudáveis.
Palavras-Chave:
Caxiuanã; Mamirauá; Quilombolas; Bioantropologia.
A Doutoranda Ariana Kelly da Silva durante apresentação de "Comunicação Oral" no AFV - Foto: Roseane Bittencourt. |
Título: “Doença Falciforme na Amazônia: Discussões sobre Identidade de Raça/Cor e Ancestralidade Genômica no Estado do Pará”.
Nome: Ariana Kelly Leandra Silva da Silva
Orientador (a): Prof. Dr. Hilton P Silva (Coautor)
Área de Concentração: Bioantropologia
Linha de Pesquisa: Socioecologia da Saúde e da Doença
*Pesquisa em Andamento
A Doença
Falciforme (DF) é a doença genética mais prevalente em todo o mundo. Na
Amazônia, Estado do Pará, a Hb*S
(grupo homozigoto Hb*SS) ocorre em
cerca de 1% da população, que convive com inúmeros desafios cotidianos em
relação ao acesso aos serviços públicos de saúde, à vulnerabilidade biossocial
causada pela doença e aos estigmas relacionados à “Raça/Cor” dos indivíduos
acometidos pela síndrome. O trabalho de pesquisa de tese pretende investigar as
categorias biológica (genética) e cultural (Raça/Cor/Ancestralidade) entre os
interlocutores diagnosticados com a doença, confrontar as intersecções
(conexões) entre a Identidade Social (IS) de Raça/Cor versus a Ancestralidade
Genômica dos participantes com DF em contraponto à sua condição biossocial, com
histórias de vida e particularidades que englobam questões de “raça” e racismo
em torno da doença. A pesquisa pretende investigar um grupo de 100 pessoas com Hb*SS no Pará. Serão coletadas amostras
de sangue no Hemocentro Regional do Pará (Hemopa/Belém), após aprovação na
Plataforma Brasil, assim como realizar testes de ancestralidade genômica
autossômica (AG) dos indivíduos no Laboratório de Genética Humana e Médica
(LGHM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Concomitantemente, será
realizada uma pesquisa etnográfica com entrevistas semiestruturadas com os
mesmos indivíduos, posteriormente à entrega do resultado do teste de AG. O
estudo tem sua relevância embasada na identificação do processo de
“racialização” da DF entendida como um Determinante Social da Saúde (DSS),
especialmente considerando que a Hb*SS
engloba dados biológicos e socioculturais, sendo ainda imaginada como uma
“doença que vem do negro” na Amazônia. Na Amazônia, a DF ainda carece de uma
análise conjunta biocultural e de ancestralidade genômica uma vez que os
indivíduos com a doença estão imbuídos em um universo étnicorracial ainda pouco
estudado em grupos humanos com doenças genéticas.
Palavras-Chave: Anemia Falciforme; Racismo;
Ancestralidade Genômica.
O Doutorando Santiago Volney durante a apresentação de "Comunicação Oral" no AFV - Foto: Roseane Bittencourt |
Título: "Seriam os carácteres
métricos cranianos bons indicadores de espécies Homo?"
Nome:
Santiago Wolnei Ferreira Guimarães
Orientador:
Hilton Pereira da Silva
Área de Concentração:
Bioantropologia
Linha de Pesquisa:
Antropologia Genética e Forense.
*Pesquisa em andamento.
Resumo:
O
maior problema da paleoantropologia tem sido o que trata da definição de
espécies de hominídeos extintos. Tal idéia, proferida por muitos dos principais
paleoantropólogos mundiais reflete o problema geral que pretendemos abordar em
nosso projeto. Os humanos modernos são caracterizados dentro de uma enorme
diversidade fenotípica. Por outro lado, trata-se de grande diversidade presente
em apenas uma espécie. Muitos fatores parecem ter contribuído para este
fenômeno, como a adaptação aos diversos ecossistemas terrestres, e a própria
cultura. Não obstante, não se sabe se a variação fenotípica encontrada em
outros momentos relativos ao gênero Homo
configura também uma única, ou várias espécies. As variáveis craniométricas têm
sido utilizadas para se definir variações entre e dentro de populações da nossa
espécie. O mesmo procedimento também é comumente utilizado para se observar relações
que indiquem “caminhos taxonômicos” em grupos de hominídeos extintos. Contudo,
mesmo com o considerado aprimoramento dos métodos estatísticos, notam-se
divergências teóricas entre os pesquisadores, que, de um lado, apóiam a diversidade
de espécies no gênero Homo, e do
outro, a existência de uma só linhagem que se modificou durante a sua evolução.
Apesar das pesquisas apontarem relação entre os resultados e o tipo de método
escolhido, pode ser que o problema se encontre de fato no objeto, neste caso,
as medidas cranianas. No presente projeto pretendemos investigar se as medidas
cranianas são bons indicadores de espécies no gênero Homo. Para tanto, tentaremos observar se análises que buscam
estimar espécies, relativas à variação do tamanho do crânio, morfologia e
dimorfismo sexual, apresentam resultados convergentes, desde quando utilizadas
para estimar espécies extintas no gênero Homo.
Utilizaremos, a princípio, um banco de dados relativo a mais de 40 medidas
cranianas obtidas em mais de 40 espécimes fósseis datados desde 1.85 milhões de
anos até o presente.
Palavras-chave: Gênero Homo; Espécies; Caracteres Métricos Cranianos.
O Mestrando Mariluzio Moreira durante apresentação de "Comunicação Oral no AFV - Foto: Roseane Bittencourt |
Título: "Ossos do Ofício: Antropologia Forense no Pará e a Garantia de Direitos".
Nome: Mariluzio Araújo
Moreira da Silva
Orientador(a): Prof. Dr. Hilton
Pereira da Silva
Co-orientador: Prof. Dr. Tiago
Tome
Área de Concentração: Bioantropologia
Linha de Pesquisa: Antropologia
Genética e Forense
*Pesquisa em andamento
Resumo:
Trata-se de uma pesquisa realizada no Centro de Pericias Científicas
Renato Chaves (CPC RC) acerca da Antropologia Forense praticada no Estado do
Pará. A pesquisa foi desenvolvida entre
2014 e 2016 através de análise de 124 laudos de pericias antropológicas
realizadas em ossadas, ou seja, a coleta de dados foi restrita a laudos de
pericias realizadas em indivíduos completamente esqueletizados. A perícia em
Antropologia Forense é uma atividade exclusiva do estado e sempre é solicitada
para proceder identificação humana em indivíduos onde a identificação civil é
desconhecida, seja em indivíduos vivos ou mortos, entretanto, é nos achados
osteológicos que está a maior fonte de informações que o antropólogo forense
procura. No Centro de Periciais Cientificas Renato Chaves esse procedimento
pericial é realizado pela Coordenação de odontologia Legal e Antropologia
Forense (COLAF) por uma equipe composta por 7 peritos odontólogos. Apesar das
dimensões territoriais do Estado do Pará serem imensas e do CPC RC possuir
unidades regionais, esse serviço ainda é ofertado exclusivamente na capital
paraense e isso ocorre em decorrência da falta de peritos especialistas nessa
área e pela falta de infraestrutura adequada para a realização das pericias. A
amostra analisada revelou que os trabalhos de Antropologia Forense do Pará tem
conseguido garantir inumações dignas, através da entrega de corpos, antes
considerados ignorados, às suas famílias, por meio da construção de perfis
bioantropológicos que tem garantido identificações positivas. Tem ainda
conseguido esclarecer as circunstancias que levaram um indivíduo ao óbito,
conseguindo, dessa forma, realizar diagnósticos de morte violenta, que
consequentemente orientam as investigações da autoridade policial na busca dos
agressores. Todavia e apesar das grandes contribuições, a antropologia forense
paraense ainda precisa avançar seja na conquista de infraestrutura adequada,
seja no desenvolvimento de novas metodologias de análise osteológica que
fomentem cada vez mais uma perícia eficiente.
Palavras-Chaves: Antropologia
Forense; Identificação Humana, Garantia de Direitos; Osteobiografia.
A Mestranda Eliane Rodrigues (Putira Baré) durante apresentação de "Comunicação Oral no AFV - Foto: Roseane Bittencourt |
Discente: Eliene dos Santos Rodrigues
Área de Concentração: Bioantropologia; Genética e Forense
Orientador: Sidney Santos
*Pesquisa em andamento
Resumo:
O câncer de colo de Útero representa entre as neoplasias malignas, a segunda principal causa de óbito dentro da população feminina na idade de 15 anos ou mais , no Brasil. Os maiores números de caso estão localizados nas regiões norte e nordeste, constitui um problema prioritário de saúde pública principalmente em áreas de pouco acesso como é o caso das comunidades indígenas localizadas nos Municípios de Parauapebas e Tucurui. Inicio precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros, além da presença de IST, estão entre os principais fatores de risco. Assim o presente estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de câncer de colo uterino em mulheres indígenas, visando a instituir um programa de prevenção nessa população. O estudo é do tipo transversal, composto por 169 mulheres que tinham ou haviam tido vida sexual e compareceram espontaneamente, preencheram um questionário, a coleta do material foi padronizada de forma a discriminar três regiões especificas: fundo de saco vaginal, junção escamo-colunar e canal endocervical. As laminas foram identificadas e coradas pelo método Papanicolau e o exame citopatológico foi realizado no laboratório da UFPA. Analise estatística foi realizada no programa SPSS 14.0. Das mulheres que participaram do estudo observou-se que 47,3,0% apresentavam atipias celulares inflamatórias; 2,25% apresentavam anormalidades citológicas pré- malignas (neoplasia intra-epitelial tipo I, II e III) e 3,0% apresentava carcinoma invasor de colo uterino. Constatou-se que somente 38,8% das mulheres apresentavam flora vaginal normal e 3,3% o material coletado foi insuficiente para uma analise satisfatória. Nesse estudo não foi possível identificar os tipos de HPV, já que não foi realizada a hibridização molecular do material nos casos de biopsia. A dificuldade geográfica é um dos fatores que prejudica o acesso dessas comunidades a programas de saúde básico. Os resultados ressaltam a necessidade de políticas públicas com prevenção, detecção e tratamento precoce do câncer nessas comunidades.
Palavras-Chave: Indígenas; Câncer; Mulheres.
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