Putira Baré é a 1ª Indígena aprovada no Curso de Mestrado em Bioantropologia/PPGA-UFPA
O Programa de Pós Graduação em Antropologia aprovou no
Curso de Mestrado, Área de Concentração em Bioantropologia, Linha de Pesquisa Antropologia Genética e Forense, sendo que a Indígena Putira Baré, deverá ser a 1.ª Indígena Mestre em Bioantropologia formada no Brasil.
Putira será orientada pelo Prof. Dr. Sidney Santos, do Laboratório de Genética Humana e Médica do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA.
Putira será orientada pelo Prof. Dr. Sidney Santos, do Laboratório de Genética Humana e Médica do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA.
Putira Baré durante incursão em campo, em Melgaço/Pará:
ela integra a Equipe do Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA
(Foto: Ariana da Silva)
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O LEBIOS dá as boas vindas a mais nova
integrante da área de concentração em Bioantropologia do PPGA/UFPA, receba os nossos parabéns Putira!!!
A matéria que descreve a trajetória de
Putira, publicada no Jornal Beira do Rio - UFPA, segue abaixo:
UFPA forma em
Biomedicina a primeira aluna indígena
Putira Baré (Fotos: Jornal Beira do Rio)
Recentemente, a primeira mulher indígena concluiu a graduação na
Universidade Federal do Pará, no curso de Biomedicina. Eliene Rodrigues Putira
Sacuena, da etnia Baré (Rio Negro-AM), ingressou na Universidade por meio das
Políticas Afirmativas de Cotas e contou com o apoio do Núcleo de Inclusão
Social (NIS/UFPA), da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (Proeg), para sua
permanência com qualidade no ensino superior. Agora, a estudante é mestranda no
Programa de Pós-Graduação em Antropologia.
“Eu cursei Biomedicina com muita dificuldade, assim como qualquer outro
indígena quando entra na universidade. Nós temos um problema sério no ensino
fundamental e no ensino médio e, quando entramos na Universidade, sentimos essa
dificuldade pedagógica e o nosso modo de viver muda completamente. Com essas
dificuldades, uma grande maioria desiste dos cursos”, afirmou Eliene Sacuena.
A biomédica falou sobre as dificuldades enfrentadas durante sua
graduação, como a barreira atitudinal evidenciada pelo preconceito em relação à
sua cultura. “Sofri muito preconceito por parte de alguns professores, mas
também recebi muito apoio de outros. Uma dessas professoras me disse que eu não
iria contribuir com nada na Universidade e que o meu povo não tinha influência.
A partir disso, eu reforcei a ideia de não desistir, porque esse preconceito me
ajudava a estudar ainda mais, para provar que nós, povos indígenas, temos
condições de estar em uma Academia”, disse Eliene.
Produção de
conhecimento - A mestranda destacou a importância da Graduação em Biomedicina para a
sua comunidade e o povo indígena, principalmente como um incentivo para atrair
outros estudantes para a Universidade. “Eu terei que aprender até onde posso
ir, como biomédica, na minha cultura, porque, para o meu povo, eu continuo
sendo quem sou e não muda o fato de ser biomédica. O que muda é a questão da
confiança que eles têm no meu aprendizado. Eles sabem que esse conhecimento não
vai prejudicá-los. Então, agora, a sociedade pode olhar para nós de uma forma
diferente”, afirmou.
O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Eliene foi feito com a
comunidade dos indígenas xikrin, na Serra dos Carajás, em Parauapebas. “Eu
viajei com uma equipe multiprofissional da Universidade e, lá, nós percebemos
que não é diferente de outras aldeias e que existe a mesma problemática. Além
disso, também percebi a confiança em permitir que a coleta de material
biológico seja feita por outro indígena, e eu recebi um atendimento
diferenciado.”
Apesar disso, Eliene também destaca que a maior dificuldade de realizar
o TCC foi buscar referências indígenas. “Nós começamos a perceber que o
indígena precisa ocupar esses lugares, com mestrado e doutorado, para que os
próximos não tenham a mesma dificuldade que eu tive.”, afirmou. Na pesquisa do
mestrado, Eliene irá tratar do câncer em mulheres indígenas na Amazônia, por
ser uma situação de necessidade. “Essa ideia surgiu da própria viagem, quando
eu fiz um trabalho multiprofissional e vi a deficiência na comunidade. O projeto
de mestrado busca analisar as problemáticas por meio do meu TCC.”
Apoio - Segundo a
mestranda, uma das grandes influências em sua vida acadêmica foi o apoio da
Proeg, que abriu o diálogo para atender às demandas indígenas quanto às
necessidades formativas por meio das ações do NIS, e o apoio da Proex, com o
acesso à Bolsa Permanência. Eliene afirmou que um dos principais problemas é a
falta de acompanhamento.É nesse ponto que entra o NIS, que ajuda os estudantes
que querem manter uma boa média. “Você consegue avançar quando começa a ouvir
os estudantes indígenas. E a Universidade tem tudo para crescer a partir do
momento que respeita a diversidade dentro dela.”, destacou.
Ações afirmativas - A UFPA possui o Programa de Ação
Afirmativa de Cotas para Estudantes Indígenas, aplicado desde 2008. Essas ações
afirmativas são atos ou medidas especiais e temporárias, tomadas ou
determinadas pelo Estado, com o objetivo de eliminar desigualdades
historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e
tratamento, assim como de compensar perdas provocadas pela discriminação e
marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero
e outros.
Percebendo a
deficiência dos estudantes indígenas na educação básica, a Proeg implementou um
programa de tutoria para indígenas e quilombolas, o PETQI,
realizado no início do curso, o qual concede os conhecimentos necessários
para que eles se formem. Essa tutoria acontece no Instituto de Ciências
Biológicas (ICB), já que a maior demanda indígena é na área da saúde. “O
projeto busca diminuir a evasão e melhorar a permanência deles na Universidade.
Não é um curso de nivelamento convencional, mas ele dá subsídios para que eles
tenham um grau de autonomia”, afirmou a professora Lúcia Harada, Pró-Reitora da
Proeg.
Para complementar, o professor Mauro Magalhães, assessor da Proeg,
afirmou que a Reitoria, assim como a Proeg e a Proex só criam os mecanismos
para eliminar barreiras que os estudantes encontram. “O NIS é um núcleo que
veio para fortalecer essa concepção do que nós, como gestores, podemos fazer
para contribuir para o sucesso dos estudantes indígenas”, concluiu.
Texto: Elisa Vaz – Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Adolfo Lemos
Foto: Adolfo Lemos
Publicado em: 07.04.2016 18:00
Disponível no site: https://www.portal.ufpa.br/ imprensa/noticia.php?cod=11501
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