VIII Congresso Brasileiro de Pesquisadores(as) Negros(as) - COPENE (UFPA/Belém/PA)
Este ano a UFPA tem a honra de receber o VIII
Congresso Brasileiro de Pesquisadores(as) Negros(as) (COPENE) e também o
III Seminário Internacional de Pesquisadores/as Negros/as, que trarão a
Belém, entre os dias 30/7 e 2/8 alguns dos mais renomados estudiosos sobre
temas africanos e afro-brasileiros no mundo, além de cerca de 1.500
participantes de todos os continentes.
O Congresso é promovido pela A Associação
Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) - ABPN, que "constitui um
dos órgãos fundamentais da rede de instituições que atuam na sociedade brasileira no combate ao racismo,
preconceito e discriminação racial, com vistas à formulação, implementação,
monitoramento e avaliação das políticas públicas para uma sociedade justa e
equânime. A instituição congrega pesquisadores(as) negros(as) interessados em
pesquisas acadêmicas em temas pertinentes à construção e ampliação do
conhecimento humano e outros pesquisadores comprometidos com temas de interesse
das populações negras no Brasil, África e Diáspora". Na UFPA, o evento tem apoio da Casa Brasil-África
e do Grupo de Estudos Afro-Amazônico (GEAM), entre outros, que
contribuem com voluntários e na organização de Simpósios Temáticos e na exposição
África e Diásporas, aberta ao público e localizada na Sala da Congregação
do IFCH.
A Bioantropologia da UFPA participa do evento no Simpósio Temático 25: Saúde, Gênero e População Negra, coordenado pela Profa. Edna Araújo e pelo Prof. Hilton P. Silva. O ST será nos dias 31/7 e 1/8 das 10 as 12h na sala 07 do pavilhão de aulas do Instituto de Ciências Biológicas, no Campus Básico da UFPA. Três trabalhos da área de Bioantropologia do PPGA serão apresentados: "Saúde e Educação entre Populações Quilombolas Paraenses: A Realidade como Desafio e o Conhecimento como Instrumento de Promoção Social", "Medicina Tradicional e Doença Falciforme na Amazônia Paraense: Uma Relação Possível?" e "Doença Falciforme na Amazônia Paraense e Racismo Institucional: O Tabu da Aplicabilidade do Quesito Cor". Os resumos seguem abaixo:
A Bioantropologia da UFPA participa do evento no Simpósio Temático 25: Saúde, Gênero e População Negra, coordenado pela Profa. Edna Araújo e pelo Prof. Hilton P. Silva. O ST será nos dias 31/7 e 1/8 das 10 as 12h na sala 07 do pavilhão de aulas do Instituto de Ciências Biológicas, no Campus Básico da UFPA. Três trabalhos da área de Bioantropologia do PPGA serão apresentados: "Saúde e Educação entre Populações Quilombolas Paraenses: A Realidade como Desafio e o Conhecimento como Instrumento de Promoção Social", "Medicina Tradicional e Doença Falciforme na Amazônia Paraense: Uma Relação Possível?" e "Doença Falciforme na Amazônia Paraense e Racismo Institucional: O Tabu da Aplicabilidade do Quesito Cor". Os resumos seguem abaixo:
"Saúde e Educação entre Populações Quilombolas Paraenses: A Realidade
como Desafio e o Conhecimento como Instrumento de Promoção Social"
Hilton P. Silva1, Joana C. N. Machado2,
Roseane B. Tavares3.
O Pará tem cerca de
400 comunidades quilombolas, a maioria das quais não oficialmente
reconhecidas. Um dos desafios dessas populações é conseguir interferir nas políticas públicas
que lhes sejam relevantes. Em 2008 iniciou-se um projeto visando conhecer a situação
de um grupo de comunidades quilombolas (cerca de 2500 pessoas), escolhidas conforme
sua diversidade histórica e ambiental, na perspectiva de oferecer subsídios para o
desenvolvimento de políticas públicas de saúde e educação adequadas à realidade regional da
Amazônia. foram realizados detalhados levantamentos demográficos, sócio-econômicos,
ecológicos, epidemiológicos e sanitários, oficinas comunitárias,
entrevistas com lideranças, professores, agentes comunitários de saúde, e gestores de
prefeituras e outros órgãos públicos, e comparação com dados da literatura. Os resultados indicam
que as comunidades investigadas comungam em muitos aspectos com a realidade de
outras populações afro-descendentes brasileiras. O quadro nosológico apresenta
elevadas taxas de doenças como parasitoses intestinais, dermatoses e doenças
respiratórias agudas, cáries, desnutrição infantil, hipertensão arterial, diabetes e
obesidade em adultos, sendo que há grande dificuldade de acesso a serviços de saúde, não
há políticas públicas específicas para os quilombolas na maioria dos municípios e os
gestores, em geral, desconhecem a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra. Do ponto de vista da educação, as escolas são precárias, os professores não têm
formação adequada e não há qualquer política municipal voltada para a implementação
da Lei 10.639\03. Como estratégia de combate as doenças carenciais e crônicas
desenvolveu-se, em parceria com a SEDUC-PA, um programa de intervenção nas
comunidades para a inclusão da temática Educação em Saúde e Valores Civilizatórios
Afro-Brasileiros. Com a implementação do projeto foi possível o desenvolvimento das
parcerias necessárias entre a academia, a SEDUC-PA, as secretarias
municipais de saúde e educação e as comunidades para, através da pesquisaação, produzir o reconhecimento
da precária situação de saúde e educação dos quilombolas,
possibilitar a sensibilização das estruturas oficiais às necessidades dessas populações, e os
emponderar para atuar mais efetivamente na defesa de seus interesses.
1. LEBIOS, PPGA,
GEAAM, CBA-UFPA,
2. SEDUC-PA, GEAAM,
PPGE-UFPA,
3. LEBIOS.
Contato: Universidade
Federal do Pará, Cidade Universitária do Guamá, 66075-900,
Belém, Telefone (91) 32018024, E-mail: hdasilva@ufpa.br
"Medicina Tradicional e Doença Falciforme na Amazônia Paraense: Uma Relação Possível?"
Ariana
Kelly Silva da Silva1 e Hilton P. Silva1
O
presente trabalho descreve as relações entre o uso de produtos da medicina
tradicional amazônica
e a Doença Falciforme (DF) a partir de um estudo etnográfico de um grupo de
40 pessoas com Anemia Falciforme (HB*SS). No contexto da (des)informação
sobre a própria
fisiopatologia da doença, muitos indivíduos utilizam plantas medicinais como tratamento
alternativo ou terapia complementar ao da medicina alopática. Em função da denominação
“anemia”, as pessoas com a doença frequentemente fazem uso de chás, garrafadas
e infusões, que são compostos de plantas com elevado teor ferro, o
que está em
contraposição à recomendação da clínica hematológica. Como a DF é, em geral, confundida
com a anemia comum, metade das pessoas do grupo estudado faz uso de “chá
para anemia” com o intuito de obter uma melhora em seu quadro clínico, muitas vezes
experimentando reações adversas, conforme os seus próprios relatos, que podem ter
importantes repercussões no tratamento. A metodologia compreensiva, a pesquisa qualitativa
de cunho etnográfico e a análise de conteúdo, foram os caminhos utilizados para
descrever a convivência do grupo com a cronicidade da DF e as implicações do
uso de
tratamentos tradicionais. A utilização sistemática de produtos da medicina tradicional,
neste caso, pode agravar a situação de saúde dos indivíduos, já tão eminentemente
fragilizada por fatores socioeconômicos, emocionais, estruturais, etc., especialmente
em populações negras vulnerabilizadas socialmente, sendo necessário garantir
informações adequadas sobre suas implicações quando da visita ao ambulatório médico.
A utilização de “chás para anemia”, tão comum entre pessoas com DF, deve ser compreendida
em sua totalidade, e não pode ser ignorada ou discriminada durante o tratamento.
Conforme prevê a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, os
sujeitos com DF devem ser envolvidos de forma assistida e continuada em
programas de
educação em saúde na instituição de acolhimento hematológico, visando sua autonomia
e conhecimento adequado sobre a doença, na perspectiva da melhoria de sua qualidade
de vida.
1.
Universidade Federal do Pará – Programa de Pós Graduação em Antropologia, Laboratório
de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente. Contato:
Universidade Federal do Pará, Cidade Universitária do Guamá, 66075-900, Belém,
Telefone (91) 32018024, E-mail: arianabelem@gmail.com
A
K Silva
Universidade
Federal do Pará – Programa de Pós Graduação em Antropologia
arianabelem@gmail.com
O
presente trabalho descreve as relações entre a Doença Falciforme (DF), a
aplicabilidade do “Quesito Cor” e o Racismo Institucional vivenciado por um
grupo de 40 pessoas com Anemia Falciforme (HB*SS) Amazônia, estado do Pará,
analisando o tabu de “não perguntar a
cor” de indivíduos com DF em um hemocentro paraense enquanto questão de saúde
pública. O Quesito Raça/Cor é um importante indicador na avaliação das
estatísticas em saúde, que visa representar a diversidade étnicorracial do
Brasil. Porém, para diversos segmentos do Setor Saúde, ainda não está evidente
a relevância da coleta adequada dessa informação para o planejamento de
políticas públicas, especialmente no tocante à Política Nacional de Saúde da
População Negra, critério ainda subutilizado entre o grupo com DF em questão.
Estima-se que a DF acomete aproximadamente 1% da população no Pará, com cerca
de 8 milhões de habitantes. O Pará é o terceiro Estado brasileiro com a maior
população negra do Brasil. Os indivíduos com DF enfrentam desafios diários que
vão desde a dificuldade de acesso aos serviços de saúde até o estigma
biossocial relacionado à sua cor. Um dos estigmas diz respeito à diferença
estatística acentuada entre “cor autodeclarada” pelos interlocutores e a “cor
do prontuário” no registro do hemocentro, resultado da atitude “tabu” de “não
indagar a respeito da cor de pessoas com DF” para “evitar constrangimentos”
entre os indivíduos, segundo relatos de sujeitos do hemocentro. A diferença encontrada entre a
auto-declaração e a informada no prontuário médico é um reflexo da ‘perda de
hábito’ dos funcionários em perguntar às pessoas com DF sobre a sua cor, como é
recomendado pelo Ministério da Saúde (MS) e, quando classificadas, a maioria
das pessoas são geralmente colocadas no grupo dos “pardos” (70%). Apesar de
indesejado pela equipe, este ato representa o racismo institucional, pois não é
possível planejar Políticas Públicas sem conhecer a diversidade étnicorracial
da população do Pará. Assim, os dados de cores disponíveis no centro deste serviço
de referência de saúde não são totalmente confiáveis para o planejamento de
Políticas Públicas de Saúde (subnotificações). Há muitas reticências por parte
das Instituições de Saúde para discutir com seus servidores sobre a questão de
“Raça” e “Racismo” no Sistema Público de Saúde brasileiro e é necessário mudar
essa realidade.
A síntese da programação geral do COPENE esta disponível em: http://www.para2014.copene.
A programação completa do evento está disponível em: http://www.para2014.copene.
Conclamamos todos os interessados em conhecer
mais sobre a África e sobre as Africanidades no Brasil a fazer parte deste
importante evento.
As inscrições podem ser feitas no local ou através do site: http://www.para2014.copene.
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