O Complexo Estudo sobre o Povoamento das Américas
Botocudos Image: Google Image |
O
Complexo Estudo sobre o Povoamento das Américas.
Mark
Hubbe
Professor
Assistente
Department
of Anthropology
The Ohio State University
Desde a chegada dos europeus ao Continente Americano,
três perguntas guiaram os estudos sobre o povoamento de nosso continente:
- Quem foram os primeiros americanos?
- Quando chegaram?
- De onde vieram?
Apesar de se referirem aos conceitos mais básicos
sobre o processo de ocupação humana das Américas, estas três perguntas se
mostraram particularmente difíceis de responder. De fato, passados mais de
cinco séculos desde que foram formuladas pela primeira vez, não nos encontramos
mais próximos da resposta do que o Padre José de Anchieta, durante o século
XVI, ou o Naturalista Ales Hrdlička, no século XIX, estavam. Parte da razão pela
qual não somos ainda capazes de responder a estas três perguntas é a
complexidade de todos os processos de interação que ocorreram entre os
diferentes grupos humanos ao longo dos últimos 15 a 20 mil anos que compõe a
história de nosso continente.
O artigo “Identification
of Polynesian mtDNA haplogroups in remains of Botocudo Amerindians from Brazil”,
publicado recentemente por Vanessa Gonçalves e tendo como um dos colaboradores
o Prof. Hilton P. Silva, do Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e
Meio Ambiente da UFPA e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, na
prestigiosa revista Proceedings of the National
Academy of Science é um excelente exemplo de como ainda estamos longe de conhecer toda a dinâmica
humana da história continental. Neste trabalho são apresentados resultados de
linhagens de DNA mitocondrial desconhecidos até então no continente em dois
crânios de índios Botocudos do interior de Minas Gerais, resguardados pelo
Museu Nacional do Rio de Janeiro desde o início do século passado. Detalhe:
esta nova linhagem mitocondrial é muito comum em grupos polinésios (e ocorre em
menor frequência em alguns grupos de Madagascar, no leste Africano). A grande
questão a partir de agora é descobrir de que maneira esta linhagem foi incorporada
pelos Botocudos: é um vestígio da primeira migração ao continente? Seria um vestígio
de uma conexão com a polinésia durante os últimos milhares de anos? Ou será o
resultado de contatos entres os Botocudos e grupos de escravos provindos de
Madagascar oi imediações durante o século XIX?
A resposta para esta pergunta requererá trabalhos mais
profundos sobre o tema, mas uma coisa é certa: esta linhagem nova encontrada
entre os extintos índios Botocudos mostra que continuamos longe de entender com
confiança os processos que levaram à colonização do continente americano.
O artigo pode ser visualizado no link:
http://www.pnas.org/content/110/16/6465.abstract
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