Biologia Evolutiva e os desafios do Homo sapiens ou, como a Natureza Não É perfeita!

Biologia Evolutiva e os desafios do Homo sapiens: como a Natureza Não É perfeita!

Dois artigos publicados recentemente na revista Science (25 May 2012: Vol. 336 no. 6084, links: http://www.sciencemag.org/content/336/6084/973.summary?sid=3b77c248-1779-49d5-a7e2-fc4a3e9b501a  e http://www.sciencemag.org/content/336/6084/974.summary) apontam aspectos interessantes das incongruências entre nossa história evolutiva enquanto espécie e as demandas da modernidade.
No artigo An Evolutionary Theory of Dentistry, a jornalista Ann  Gibbons escreve que de acordo com uma pesquisa apresentada recentemente, dentes humanos, mandíbulas e a boca não estão bem adaptados à dieta da moderna sociedade industrial. Nós evoluímos para comer sementes grossas, nozes, tubérculos, frutas e carne. O descompasso entre nossa adaptação e nosso ambiente atual causam cáries dentárias, impactação de dentes, sobremordida e doenças nas gengivas, eventos muito comuns hoje. Um estudo de duas vilas Maia apresenta imagens do antes e do depois da chamada Transição Nutricional, em que as pessoas mudam da dieta tradicional, de subsistência, para uma dieta da idade industrial, com açúcar refinado e alimentos processados. Na reunião, uma mistura incomum de paleoantropólogos, arqueólogos, pesquisadores dentários e cientistas de alimentos explorou qual é o conhecimento sobre a dieta e a saúde dentária dos humanos do passado, e como esta informação pode ser útil para os dentistas de hoje.
Em outro artigo no mesmo volume, com o título The Burdens of Being a Biped, Elizabeth Pennisi aponta que, assim como muitos dos problemas dentários contemporâneos estão enraizados em nossa história evolutiva, uma série de problemas músculo-esqueléticos são rastreáveis também até o nosso passado, em particular para a evolução do andar ereto, a mais de 7 milhões de anos atrás. A modificação de um sistema de suporte baseado em quatro patas para um sistema baseado em duas patas colocou estresse extra sobre as pernas e as vértebras. Adaptações nos pés, joelhos, quadris, pélvis e coluna acomodaram essas forças, mas com um custo. A evolução imperfeita e as contradições em como nosso corpo mudou nos deixaram com vértebras que facilmente podem quebrar, ossos mais fracos e pés propensos a esporões e tornozelos torcidos. Nossa relativa inatividade no estilo de vida atual e a vida mais longa apenas exacerbam nossas imperfeições ortopédicas. Uma breve visita ao corpo revela uma série de falhas no desenho/projeto, o legado do nosso passado.

A paleoantropologia busca os fósseis de hominíneos, a biologia evolutiva nos ajuda a analisar aqueles achados para entender como as forças da natureza forjam nossos corpos e mentes, e a bioantropologia contextualiza a nossa história evolutiva, contribuindo para a compreensão das mudanças e das permanências, ajudando a criar novas adaptações bioculturais, como melhores políticas públicas, próteses e órteses, e mudanças nos padrões de atividade física, para que possamos continuar a sobreviver, da melhor forma possível no ambiente contemporâneo.

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