Paleontologia Volta a Cena com Descoberta Chinesa
Segundo
o bioantropólogo Santiago V.F. Guimarães, que concluiu o doutorado no PPGA/UFPA
em 2018, nos últimos dias tem sido documentada em diversos periódicos mais uma
importante descoberta em paleoantropologia. O “Homem dragão”, assim chamado
pela grande mídia devido ao local de onde foi encontrado, o Rio dragão, na
província chinesa de Heilongjiang, é o nome divulgado para o espécime humano
que viveu no Leste Asiático há pelo menos 146.000 anos1.
Na
verdade, o espécime é um crânio quase completo, estando ausentes apenas os
dentes e a mandíbula inferior, que foi encontrado em 1933, durante a construção
de uma ponte, tendo chamado a atenção dos cientistas apenas recentemente devido
à sua morfologia2.
De
acordo com o paleoantropólogo Chris Stringer, que integra a equipe de pesquisa,
a importância dessa nova descrição justifica-se uma vez que a análise
preliminar da morfologia craniana do espécime tem mostrado uma maior proximidade
do fóssil com o Homo sapiens, do que
o Homo neanderthalensis, o que não
seria esperado. O Homo longi, nome
científico do novo fóssil, seria uma espécie “irmã” da nossa, mas teria sido extinta
sem deixar descendentes3. Por outro lado, outros pesquisadores, como
Marta Lahr, da Universidade de Câmbridge, Inglaterra, chamam atenção para a
possível antecipação de conclusões sobre o achado, principalmente aquelas que o
apontam como uma distinta linhagem. Além da brasileira Lahr, Jean-Jacques
Hublin, do Max Planck Institute, na Alemanha, tem uma outra interpretação. Para
ele, este pode ser o primeiro e, por sorte, bem preservado representante do
grupo dos Denisovanos, o que abriria as portas para estudos mais amplos sobre a
evolução e diversificação dos grupos humanos4.
Assim
como Guimarães, o Prof. Dr. Hilton P. Silva, Coordenador do LEBIOS, também
acompanha as descobertas da paleoantropologia e na semana passada deu uma
entrevista sobre essa descoberta5.
Confira
a matéria de O Liberal abaixo e veja mais artigos sobre esse debate nas
referências ao final.
Descoberta de crânio do 'homem dragão' agita discussões sobre teoria da
evolução
O "homem
dragão", como acreditam cientistas, pode ser o parente mais próximo do
Homo sapiens, inclusive, tirando o lugar de destaque atribuído ao Homo
neanderthalensis (o neandertal)
Eduardo Rocha, O Liberal
04.07.21 7h30
A descoberta do
crânio de um ancestral dos seres humanos na China, datado de 146 mil anos,
anunciado nesta semana, agita discussões sobre a evolução dos seres humanos.
Para a academia, o achado arqueológico contribui nas pesquisas sobre a evolução
humana, já no aspecto religioso, o fato em nada muda a concepção divina do
surgimento de homens e mulheres na Terra.
O crânio
descoberto, quase completo, no sítio de Harbin foi batizada de Homo longi e é
chamado de "homem dragão". Foi encontrado nos anos 30, mas somente
agora, analisado, e na sexta-feira (25) dados sobre o achado foram divulgados
na revista "The Innovation". A Academia de Ciências da China e do
Museu de História Natural de Londres desenvolvem estudos sobre o fato.
O "homem
dragão", como acreditam cientistas, pode ser o parente mais próximo do
Homo sapiens, inclusive, tirando o lugar de destaque atribuído ao Homo
neanderthalensis (o neandertal). Qiang Li, um dos autores do trabalho, afirmou
que "o fóssil de Harbin é um dos fósseis de crânio humano mais completos
do mundo".
"Esse fóssil
preserva muitos detalhes morfológicos que são críticos para entender a evolução
do Homo genus e a origem do Homo sapiens", completou Li. O "homem
dragão" (crânio apontado como de sexo masculino, de 50 anos de idade),
apresenta boca mais larga, órbitas oculares maiores e quase quadradas e dentes
grandes em comparação com as do homem moderno. No dia 24, restos mortais de um
neandertal foram localizados por pesquisadores israelenses na linhagem Homo
arcaicas.
Contribuição
Para o professor
Hilton Pereira da Silva, do Programa de Pós-Graduação de Antropologia da
Universidade Federal do Pará (UFPA), médico, biólogo, mestre em Antropologia e
doutor em Bioantropologia, "cada novo material novo ajuda a escrever a
história da evolução da humanidade, como é o caso desse agora, ou seja,
abordando os primórdios da nossa espécie". "Ele nos fala da
diversidade, da variabilidade dos grupos humanos, mas isoladamente não nos diz
tanto, porque não se pode caracterizar uma espécie a partir de um indivíduo
apenas. Mas o achado é importante, a partir do uso de tecnologia de análise, e
mostra que a espécie humana é como qualquer outra, como aponta o Darwin, é
variável; quando se retrocede no tempo se percebe que a variação é muito maior
do que se imaginava", salienta o professor, que coordena o Laboratório de
Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente (Lebios), da UFPA.
O "homem
dragão e o fóssil encontrado em Israel, como frisou o professor Hilton, mostram
que a espécie humana sempre conviveu com a diversidade, inclusive, com a troca
de genes com outros grupos, como é o caso dos neandertais e denisovanos
"que conviveram conosco nos últimos 300 mil anos". Segundo o
professor, Charles Darwin não fala especificamente da evolução humana na Teoria
da Evolução. Na obra "A Origem das Espécies", ele mostra ser comum
espécies conviverem em um mesmo espaço, e os seres humanos não fogem a essa
regra. Daí que o pesquisador observar que a descoberta do "homem
dragão", de forma isolada, não modifica a Teoria da Evolução, agora
contribuirá para se entender melhor como funciona o processo evolutivo. Como
disse o professor Hilton, há cerca de 150 mil anos havia quatro tipos de
hominídeos convivendo na Ásia.
"Espécies que,
possivelmente, foram contemporâneas ao "homem dragão": Homo neanderthalensis,
Homo heidelbergensis, Homo erectus, Homo floresiensis, Denisovanos, e Homo
sapiens (nós). O achado se soma para mostrar a diversidade do nosso gênero
(Homo) e nos ajuda a compreender um pouco mais sobre a história evolutiva da
humanidade", arremata o professor Hilton Pereira.
Divina
O cônego Ronaldo
Menezes, da Paróquia de São Geraldo Magela, no bairro de Val-de-Cães, destacou
que ainda levanta informações sobre o achado arqueológico, mas ressaltou que
"em nada contradiz o ato da criação divina".
Como observou, a
Teologia da Criação possibilita o entendimento da origem e desenvolvimento da
humanidade a partir de uma ótica situada no campo da fé, e não apenas no olhar
do ponto de vista histórico e das características físicas. "Não se pode
entender esse processo sem Deus", arremata.
Fonte:https://www.oliberal.com/para/descoberta-de-cranio-do-homem-dragao-agita-discussoes-sobre-teoria-da-evolucao-1.403629 .Acesso em: 09/07/2021.
Referências:
- Geochemical provenance and direct dating of the Harbin archaic human cranium. In: Shao et al. The Innovation, CellPress Partner Journal (100131), 2021.
- https://www.nhm.ac.uk/discover/news/2021/june/ancient-skull-from-china-could-be-new-species-dragon-man.html
- https://www.bbc.com/news/science-environment-57432104
- https://www.sciencemag.org/news/2021/06/stunning-dragon-man-skull-may-be-elusive-denisovan-or-new-species-human
- https://www.oliberal.com/para/descoberta-de-cranio-do-homem-dragao-agita-discussoes-sobre-teoria-da-evolucao-1.403629
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