Os Quilombos Pedem Socorro!
Comunidade de Abacatal, PA. Foto Acervo LEBIOS.
A saúde nos quilombos é um desafio. Dados e pesquisas apontam que comunidades quilombolas acabam sendo deixadas para segundo plano quando se trata de políticas públicas. Um agravante para essa situação é a inexistência de um órgão específico que cuide da saúde dessa população.
Levantamentos do Laboratório de
Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente (LEBIOS) da Universidade
Federal do Pará (UFPA) apontam que doenças como, hipertensão arterial, diabetes,
parasitoses intestinais, doenças respiratórias, doenças gástricas e anemia, são
alguns dos principais problemas que os quilombolas no Brasil enfrentam.
“No geral, o que se observa pelo conjunto de dados é que os grupos quilombolas apresentam maiores taxas de doenças crônicas e infecciosas que a maioria da população brasileira, além de grave insegurança alimentar e nutricional”, explicou Hilton Silva, médico especialista em saúde pública e coordenador do LEBIOS.
Precisar de atendimento e não ter acesso a ele é uma realidade constante nos quilombos do Brasil. Como é o caso da comunidade de Ipanema, em Abaetetuba, Pará. Lá não tem sequer acompanhamento de Agente Comunitário de Saúde - ACS. O antigo Posto médico da comunidade foi desativado há anos e desde então, a população local precisa se deslocar para a cidade em busca de atendimento, que nem sempre consegue, como explica a moradora Marilene. “É difícil! Temos que viajar para a cidade, mas na maioria das vezes não conseguimos atendimento. Quando a gente chega lá o número de vagas geralmente já foi preenchido”.
Ipanema não é um caso isolado. No Brasil são mais de 6.300 comunidades quilombolas e quando o assunto é saúde grande parte delas enfrenta os mesmos dilemas. “Isso se deve, sobretudo, a histórica situação de isolamento social, de descaso e preconceito das autoridades locais e da não implementação das políticas públicas voltadas para essas populações” conclui Hilton.
Covid – 19 nos quilombos
Os dados mais recentes de casos confirmados e óbitos entre os quilombolas foram divulgados no último dia 04 de março pela Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA). Até então, são 210 mortes, 4.962 casos confirmados e 1.434 casos monitoramento. O Pará é o estado que aparece com maior número de casos, foram 62 até o dia 6 de março .
Além desses dados existe um grande número de subnotificações e até mesmo de quilombolas que, mesmo sem diagnóstico comprovado por falta de atendimento, não tiveram alternativa a não ser se tratar em casa, o que não é recomendado pelas autoridades de saúde. Esse foi o caso de Malaquias, 73 anos do quilombo de Ipanema.
“Tive todos os sintomas do vírus, cheguei à beira da morte, pensei que não fosse sobreviver, estou vivo por um milagre. Até hoje não voltei a ser quem era antes, fiquei com muitas sequelas”.
O Estado Brasileiro não faz monitoramento e não registra casos e mortes dos quilombolas. Quem faz esse levantamento autônomo é a Conaq em parceria com o Isa. E é também a Conaq que está lutando pela vacinação em massa dessa população. “O Ministério da Saúde falava que essas comunidades eram prioridade na vacinação, alguma coisa aconteceu no meio do caminho e eles retiraram os quilombolas do público prioritário e agora nós temos que estar brigando, dialogando, criando meios e situações para que a nossa população seja atendida”, afirmou Arilson Ventura, quilombola e integrante da Conaq.
Mayara Pinto Abreu
Jornalista
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