Bioantropologia da UFPA participa do 12º CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA
Como o tema: Fortalecer o SUS, os direitos e a democracia,
realizou-se na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 26 e 29 de julho, o
ABRASCÃO 2018. Reunindo mais de 7.000 participantes, este é o maior e o mais
importante evento de saúde pública da América Latina.
Segundo o presidente da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), Gastão Wagner de Sousa
Campos:
“O Abrascão 2018 acontece num momento muito particular da
história do Brasil: um contexto difícil. Direitos, liberdade, democracia,
Universidade Pública e o Sistema Único de Saúde estão submetidos a ataques
cerrados.
O principal recurso à nossa disposição para organizarmos a
resistência e impedir retrocessos à liberdade e aos direitos sociais somos nós
mesmos. O Abrascão 2018 é um dos meios pelos quais podemos ecoar nossa
voz.
Precisamos organizar um Congresso que demonstre a conexão entre a Ciência produzida pela Saúde Coletiva e a defesa da vida e do bem-estar.
Precisamos organizar um Congresso que demonstre a conexão entre a Ciência produzida pela Saúde Coletiva e a defesa da vida e do bem-estar.
Precisamos de um Congresso Político que ao final publique o
Caderno da Abrasco pelo fortalecimento do SUS, dos direitos e da
democracia.
Precisamos de um Congresso que consiga combinar a crítica, a mais extensa liberdade de expressão, com a solidariedade e com a determinação de vivermos de maneira ética e democrática desde sempre. Este será um congresso-processo.
Precisamos de um Congresso que consiga combinar a crítica, a mais extensa liberdade de expressão, com a solidariedade e com a determinação de vivermos de maneira ética e democrática desde sempre. Este será um congresso-processo.
Docente
e discentes do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na
Amazônia, da Universidade Federal do Pará (PPGSAS/UFPA)
O LEBIOS não ficou de fora
desse grande evento, quatro trabalhos relacionados a pesquisas bioantropológicas
foram apresentados na forma de comunicação oral.
No dia 26, a mestranda
Silvana Gouveia apresentou seu trabalho na sessão Alimentação e Nutrição: Segurança Alimentar e
Nutricional I,
Resumo:
DETERMINAÇÕES DA ALIMENTAÇÃO EM UMA COMUNIDADE CABOCLA AMAZÔNICA NA
PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL
do Carmo,
S.R.G.
Através da alimentação, propõe-se
conhecer e dar visibilidade a história de vida de uma comunidade cabocla
denominada Nova Vida/ Barcarena/PA, que passou por impactos sociais e
ambientais: deslocamentos compulsórios e exposição a poluentes de mineração, os
quais provocaram rupturas e adaptações nas estratégias de acesso a alimentação,
marcando a especificidade da história alimentar da comunidade. Analisar a
construção espaço-temporal da história alimentar da Comunidade Nova Vida
exposta a impactos sócioambientais: deslocamentos compulsórios e exposição a
poluentes de mineração. Investigar fatores determinantes e condicionantes da
alimentação. Foi realizada entrevista semi-estruturada com 8 interlocutores do
sexo feminino e masculino, idade entre 30-75 anos, que passaram pelos processos
de deslocamentos e que se declararam voluntários na pesquisa. A abordagem
qualitativa privilegiou a história de Vida. As variáveis determinantes da
história alimentar foram categorizadas de acordo com determinantes da SAN, uma
adaptação do modelo sugerido por Kepple & Segall-Corrêa (2011). Os dados
foram tratados através da Análise Descritiva e Análise temática de conteúdo,
conforme Bardin. Para compreender os conflitos socioespaciais adotou-se a
sugestão de Minayo (2010) utilizando-se da hermenêutica dialética. As
estratégias de acesso à alimentação em Ponta da Montanha e em Curuperé são bem
delimitadas. Todas as famílias praticavam a agricultura de subsistência,
extrativismo vegetal na floresta, coleta de pescados na praia, cultivo de
plantas frutíferas nos quintais. Já a caça na floresta, a criação de animais domésticos
para consumo alimentar, a pesca ‘fora’, foram estratégias restritas a alguns
moradores. No entanto, em Nova Vida a aquisição da alimentação ocorre, na maior
parte, via monetária. O ecossistema amazônico, as escolhas individuais e
familiar somadas a forma de organização geopolítica e econômica em Barcarena
são fatores determinantes da história alimentar da comunidade. Essa comunidade
é um referencial que demonstra processos de mudanças e permanências,
especificidades e similaridades loco-regional, onde no cenário socioespacial
convivem o local e o global porque há permanência da cultura alimentar do
caboclo amazônico e a mudança para uma alimentação globalizada. Assim, a
alimentação se inscreve, neste contexto, como um marcador que indica as macroestruturações
políticas e as transformações socioespaciais.
Discente Silvana
apresentando seu trabalho no ABRASCÃO 2018.
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No dia 28, a mestra Roseane
B. Tavares, egressa do PPGSAS, apresentou seu trabalho, na sessão Profissionais de Saúde, coordenada pelo
Prof. Dr. Hilton P. Silva.
Resumo:
MOTIVAÇÃO E FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS
MÉDICOS COOPERADOS DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS ATUANTES NO PARÁ, AMAZÔNIA, BRASIL.
TAVARES, RB; SILVA, HP.
Em 2013, o Programa Mais Médicos (PMM)priorizou
em sua seleção, profissionais com registro no Brasil, mas após várias chamadas,
foi necessário um acordo de cooperação entre Brasil e Cuba, por meio da
Organização Pan-Americana de Saúde. Porém, a vinda de profissionais cubanos foi
muito criticada, por serem considerados não aptos para exercer a medicina no
país. O objetivo deste trabalho é conhecer a motivação dos médicos cooperados
que vieram atuar na Atenção Básica no Brasil, em lugares com alta
vulnerabilidade como o interior do Pará e analisar a sua formação acadêmica. Foram utilizados dados
primários do Projeto Multicêntrico “Avaliação
da implementação do Projeto Mais Médicos para o Brasil: Análise da efetividade
da iniciativa Mais Médicos na realização do direito universal à saúde e na
consolidação das Redes de Serviços de Saúde”, coletados no estado do Pará; e
dados secundários, como a busca de currículos de medicina de Cuba onde esses
médicos se formaram. A partir desses dados, foi realizada a análise de conteúdo
das entrevistas feitas com 16 médicos do PMM, em oito municípios do estado; e
fez-se a comparação do currículo cubano com um currículo de medicina brasileiro
(UFPA). As entrevistas demonstram que eles possuem um grande desejo de
colaborar para a saúde do país, por isso trazem experiências tanto em Cuba,
onde atuam na área da Atenção Primária, Medicina de Família e Comunitária, como
em missões internacionais, por exemplo na Misión Barrio Adentro (Venezuela) e
na Misión Milagro (Bolívia), devido a premissa internacionalista da formação
cubana. Observou-se também que os currículos são muito similares, sendo que o
cubano possui uma carga superior ao brasileiro, destacando-se disciplinas como
Medicina Geral Integral (380h) e Medicina Interna (763h), além de possuir
disciplinas específicas de Promoção (222h), Prevenção (192h) e Medicina
Comunitária (144h). Os resultados demonstram que os médicos cooperados são
aptos a atuar na Atenção Básica brasileira e já chegam com experiência
internacional considerável. Com efeito, diversos estudos do PMM já demonstraram
a eficiência desses agentes na transformação do quadro de saúde de muitos
municípios. No estado do Pará, sua atuação tem mostrado aos gestores que é
possível prover atenção médica de qualidade mesmo nas regiões de maior
vulnerabilidade social.
Roseane apresentando seu trabalho no ABRASCÃO 2018
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Participantes,
ouvintes e coordenador da sessão Profissionais
de Saúde.
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No último dia do evento, 29, o Prof. Dr. Hilton P. Silva,
coordenador do LEBIOS e membro do GT Racismo e Saúde da Abrasco, apresentou dois
trabalhos em sessões diferentes, intituladas Ambiente e Saúde 6 e Gilberto dos Santos, atenção integral às
Pessoas com Doença Falciforme. A participação do grupo do LEBIOS no
Abrascão demonstra a abrangência do campo da Bioantropologia, sua aplicabilidade
e potenciais contribuições às mais diversas áreas do conhecimento humano.
Resumos:
USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE E O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA
MALÁRIA, DENGUE E LEISHMANIOSE NA POPULAÇÃO DE ALTAMIRA/PA.
PIRES, EP; SILVA, HP.
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região do Xingu, hoje a obra mais visada do país, traz consigo todos os ônus do “progresso”. As peculiaridades locais com doenças endêmicas e sistema de saúde deficiente na cidade de Altamira, dentro de uma nova realidade com as frentes migratórias, trouxe alterações significativas para a população local. Objetivo: Estimar as prevalências de malária, dengue e leishmaniose tegumentar no período de 2010 a junho de 2017 no município de Altamira e saber se as condicionantes de saúde foram efetivadas. Para análise dos dados coletados na secretaria de saúde de Altamira foi utilizada a distribuição temporal e espacial dessas doenças, utilizando-se como ferramenta a Análise de Séries Temporais.
Para realizar a abordagem qualitativa foi utilizado o método da pesquisa exploratória, com entrevistas realizadas em janeiro de 2015 e 2016. Em 2010 foram registrados 1.849 casos de Malária, em 2017 o número caiu para zero, e graças ao Plano de Ação para Controle da Malária (PACM). A Dengue teve 1.330 casos confirmados em 2010 e em junho de 2017 decaiu o número de casos para 17. A Leishmaniose tegumentar se manteve constante, apresentando, em 2010, 62 casos e em maio de 2017, 17 casos. A Dengue e a Leishmaniose tegumentar não tiveram ações de controle e monitoramento específicos como a Malária, que recebeu investimento financeiro para controle, sendo executadas apenas ações preventivas de rotina no município. A malária é considerada uma doença controlada em Altamira, porém precisa de continuidade nas ações de controle e monitoramento permanentemente, apesar da Dengue ter redução em número de casos é uma doença considerada negligenciada junto à Leishmaniose, tanto pelas condicionantes de saúde propostas pelo empreendedor, como pela ausência de políticas públicas municipais e estaduais ou pela ineficiência dessas políticas.
Hilton p. Silva apresentando trabalho na sessão Ambiente e Saúde 6
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POPULAÇÃO
NEGRA, DOENÇA FALCIFORME E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO PARÁ
Silva, HP.; Silva, AKLS.
A População Negra brasileira sofre histórica discriminação em todos os aspectos, inclusive o racismo institucional na área da Saúde. Apesar da PNSIPN, ainda há carência de programas e ações para a sua efetiva implementação. A Doença Falciforme (DF), como a hipertensão arterial (HA) e o diabetes (DB) em grupos quilombolas no Pará, em grande parte dos casos ainda não é adequadamente diagnosticada. Neste trabalho se analisa como as políticas públicas tem impactado a situação de saúde da População Negra no Pará e quais os principais desafios enfrentados por esta população para a efetivação do seu direito à saúde. Os dados são provenientes de projetos de pesquisa desenvolvidos no período de 2008 a 2016 com a participação de 24 comunidades remanescentes de quilombos, totalizando uma amostra de cerca de 2.500 pessoas entre crianças e adultos. Também participaram das pesquisas um grupo de 60 voluntários, portadores de DF, acompanhados pela Fundação Hemopa, em Belém, selecionados oportunisticamente, representando cerca de 1% dos afetados (HB SS) do Estado. Os projetos seguiram os parâmetros das Resoluções 196/1996 e 466/2012 do CNS. Verificou-se que os agravos mais prevalentes entre as crianças são predominantemente de origem respiratória, do trato digestivo, dermatites e dermatoses. Em relação aos padrões de crescimento, observou-se o encontro concomitante de crianças com diagnóstico de magreza e uma porcentagem considerável de crianças com excesso de peso entre os quilombolas. A população adulta, apresentou predominância de sobrepeso e obesidade entre as mulheres. Nos homens, a frequência é também bastante elevada considerando-se serem grupos rurais. Sobre a DF 83% dos participantes classificam-se como "pretos" ou "pardos". A maioria sofreu alguma forma de racismo e 65% vive em situação de pobreza, em área urbana ou periurbana. As condições de vida, formas econômicas, situação ambiental e vulnerabilidade social da população Negra acabam por determinar sua saúde. Apesar da luta pela PNSIPN, seus direitos continuam negligenciados. A população negra paraense, sofre diversos agravos preveníveis e tratáveis, para os quais já há políticas definidas. É chegado o momento de se avançar da criação de Políticas para a sua efetiva implementação com ampla participação popular.
Apresentando trabalho na sessão Gilberto dos Santos, atenção integral às Pessoas com
Doença Falciforme.
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Coordenador
da sessão com todos os participantes.
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Fonte(s) de financiamento:
CNPQ, FAPESPA, DECIT/MS, UNICEF, UFPA
Para mais detalhes sobre o Abrascão 2018 visite: httphttp://www.saudecoletiva.org.br/:///
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