""Flautista" de 2.000 anos terá o seu rosto revelado
Parece história de ficção científica, mas não é. Graças a técnica de reconstrução facial forense um crânio de aproximadamente 2.000 anos a.p. (antes do presente) pertencente ao acervo científico do Museu de Arqueologia da Universidade Católica de Pernambuco terá a sua face reconstruída pelas mãos da ciência.
Uma equipe multidisciplinar formada pela bióloga Dra. Roberta Richard Pinto (Coordenadora do Museu de Arqueologia, UNICAP), o cirurgião plástico Pablo Maricevich, o 3D designer Cicero Moraes, o Historiador Dr. Luiz Carlos Luiz Marques (Professor do Curso de Licenciatura em História, e vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Católica de Pernambuco) e os arqueólogos MSc. Flávio Moraes (Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudos Arqueológicos e Históricos – NUPEAH-UFAL/Campus Sertão) e Dra. Daniela Cisneiros Silva Mützenberg (Professora do Curso de Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, e Pesquisadora da FUMDHAM), está encarregada da missão.
A primeira parte do projeto consistiu em digitalizar o crânio (catalogado como FE11) em 3D, utilizando-se a técnica de fotogrametria, grosso modo, um escaneamento 3D feito a partir de fotografias digitais. Uma vez que o crânio é digitalizado, os especialistas poderão modelar sobre ele os músculos principais da face e complementam com o restante dos chamados tecidos moles (gorduras, glândulas, etc.), projetando a espessura da pele com tabelas estatísticas levantadas em uma população próxima à do crânio. Todo o trabalho é feito tomando como base uma vasta bibliografia científica produzida desde o ano de 1895.
O resultado do trabalho será apresentado no dia 24 de abril de 2018, às 19 horas, em um evento aberto à comunidade, promovido pelo Museu de Arqueologia, Universidade Católica de Pernambuco e contará com a presença de todos os especialistas envolvidos no projeto. A reconstituição facial deste indivíduo possibilitará conhecermos a face da população Pré-histórica da Furna do Estrago que vem sendo associada ao Homem Nordestino.
Sobre o crânio
Resultado de uma escavação iniciada ainda na década de 80, pela arqueóloga Jeannette Maria Dias de Lima, então coordenadora do Laboratório de Arqueologia da UNICAP, o material osteológico humano proveniente do Sítio Furna do Estrago proporcionou a ampliação do conhecimento acerca das condições de saúde de povos que viveram na ré-história, bem como seus padrões de sepultamento e consequentemente sua relação com o universo cosmológico. O crânio, objeto deste estudo é de um indivíduo adulto, do sexo masculino, com idade à morte estimada em aproximadamente 45 anos. Ele destacou-se, entre os demais 83 encontrados no sítio arqueológico, por particularidades de seu esqueleto e do “enxoval” funerário, que são chamados os elementos enterrados juntamente com o corpo. Chamou a atenção, em primeiro lugar, uma flauta, confeccionada possivelmente em uma tíbia humana, que o falecido portava entre os braços, por isso o nome “o flautista”. De seu “enxoval” funerário constavam ainda, 22 contas de semente, restos de um provável colar, e fibras vegetais envolvendo o crânio, como preparação para o sepultamento.
O indivíduo apresenta ainda sinais de uma fratura na bacia (também preservada no sítio), perfeitamente cicatrizada e de abcessos no crânio na região da mandíbula. A flauta, tão carinhosamente colocada e a fratura consolidada podem falar muito do nível cultural daquela sociedade: de cuidados intensos durante o longo período de imobilidade, e do gosto musical e de eventuais cerimônias de cunho religioso. Já os abcessos, provenientes provavelmente de processos infecciosos, encontrados em grande número nos demais esqueletos do sítio, mais frequentes nos homens que nas mulheres, sugerem diferenças na composição da dieta da comunidade da Furna do Estrago. Uma dieta mais diversificada de vegetais essencialmente duros e de composição abrasiva e, portanto, não exclusivamente carnívora. Fato também comprovado através da análise das fezes em outros estudos, em que se encontrou diversas fibras vegetais.
Sobre o Museu
Inaugurado em 03 de abril de 1987, o Museu de Arqueologia da UNICAP, com sua exposição “Um cemitério Indígena de 2.000 anos”, surgiu com o intuito de divulgar a Pré-História de Pernambuco, vinda dos achados arqueológicos da professora Jeannette Maria Dias de Lima. A coleção científica é constituída em grande parte por esqueletos humanos e diversos outros objetos arqueológicos que foram fruto das pesquisas realizadas pela professora no Sítio Arqueológico Furna do Estrago, Município Brejo da Madre de Deus em Pernambuco nas décadas de 1980 e 1990.
Desde sua inauguração, o Museu vem sendo visitado regularmente por professores, pesquisadores e estudantes das redes pública e privada do Estado. Em 2016, o Museu ganhou um novo endereço no Palácio da Soledade que é uma edificação tombada como Patrimônio Histórico do Recife, onde também teve início a Universidade Católica de Pernambuco, tendo sido a residência dos bispos de Olinda e Recife a partir de 1764.
O Museu de Arqueologia da UNICAP atende ao público em geral e realiza visitas guiadas com escolas da rede pública e privada. Quem se interessar em conhecer, entre em contato pelos telefones (81) 2119-4144; (81) 2119-4192 ou pelo site: museu.unicap.br e nas redes sociais: Museu De Arqueologia – Unicap (Facebook); @museunicap (Twitter e Instagram).
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