Análise
do DNA foi feita a partir do crânio, mais precisamento do osso
petroso | Foto: Channel 4
Os
pesquisadores do museu se juntaram a cientistas da universidade
londrina UCL (University College London) para analisar os resultados,
incluindo variantes genéticas associadas com cabelo, olhos e cor da
pele.
A
descoberta indica ainda que os genes da pele mais clara se difundiu
na Europa mais tarde do que se pensava, e que a cor da pele não é
necessariamente referência de origem geográfica, como normalmente é
vista hoje em dia.
Como
a pele mudou
A
pele clara provavelmente chegou à Grã-Bretanha há cerca de 6 mil
anos, com uma migração de pessoas do Oriente Médio.
Essa
população tinha pele clara e olhos castanhos. Acredita-se que tenha
acabado absorvendo características de grupos como o do Homem de
Cheddar.
Não
se sabe ao certo, contudo, por que a pele clara acabou se
sobressaindo entre os habitantes da região. Mas acredita-se que a
dieta à base de cereais provavelmente era deficiente em vitamina D -
isso exigiria que agricultores processassem esse nutriente por meio
da exposição à luz solar, que é mais escassa onde fica o Reino
Unido.
"Podem
haver outros fatores causando menor pigmentação da pele ao longo do
tempo nos últimos 10 mil anos. Mas essa é a grande explicação à
qual a maioria dos cientistas se fia", disse Mark Thomas,
geneticista da UCL.
Fóssil
foi encontrado em 1903 numa caverna em Cheddar, no condado de
Somerset
Para
Tom Booth, arqueólogo do Museu de História Natural em Londres e
integrante do projeto que desvendou as características do Homem de
Cheddar, a análise mostra como as categorias raciais são
construções modernas ou muito recentes. "Elas realmente não
se aplicam ao passado", disse ao jornal britânico The Guardian.
Yoan
Diekmann, biólogo especializado em estudos da computação na
universidade londrina UCL e também parte da equipe, concorda com o
colega. Afirma que a conexão comumente estabelecida entre
"britanidade" e brancura "não é uma verdade
imutável". "Sempre mudou e sempre mudará", declarou
à mesma publicação.
A
análise genética também sugere que o Homem Cheddar não bebia
leite na idade adulta - algo que só se espalharia entre os humanos
muito mais tarde, na Idade do Bronze, iniciada em alguns lugares há
cerca de 5 mil anos.
Chegadas
e partidas
As
análises também indicam que os europeus dos tempos atuais
mantiveram, em média, apenas 10% das características de ancestrais
como o britânico de Cheddar.
Acredita-se
que os humanos chegaram no que hoje é o Reino Unido há 40 mil anos,
mas um período de frio extremo conhecido como o Último Máximo
Glacial teria os forçado a migrar dali 10 mil anos depois.
Também
já foram coletadas evidências em cavernas de que humanos
caçadores-coletores voltaram quando as condições climáticas
melhoraram. Mas acabaram sendo surpreendidos pelo frio - marcas nos
ossos sugerem que esse grupo canibalizou seus mortos.
O
território hoje conhecido como Grã-Bretanha foi ocupado novamente
há 11 mil anos e, desde então, permanece habitado, segundo os
pesquisadores.
O
Homem de Cheddar é parte dessa onda migratória que teria caminhado
pela chamada Doggerland - que, naquele período, ligava a ilha ao
continente, mas posteriormente acabou coberta pelo aumento do nível
do mar.
Nos
anos 1990, outra análise do DNA já havia identificado possíveis
'parentes do Homem de Cheddar'
Nos
anos 1990, outra análise do DNA já havia identificado possíveis
'parentes do Homem de Cheddar' Essa não é a primeira tentativa de
análise genética do Homem de Cheddar. No final dos anos 1990, o
geneticista Brian Sykes já havia sequenciado o DNA mitocondrial de
um dos molares do fóssil.
A
sequência, transmitida exclusivamente da mãe para os filhos, foi
comparada com 20 residentes vivos do povoado em Cheddar.
Duas
dessas pessoas tinham mostras similares - uma delas era o professor
de história Adrian Targett.
A
atual descoberta feita por pesquisadores do Museu de História
Natural e da UCL vai ser detalhada em um documentário para a
televisão britânica com o título The First Brit: Secrets
of the 10,000 Year Old Man ("O primeiro britânico: segredos
do homem de 10 mil anos de idade"), feito pela Plimsoll
Productions e a ser exibido pelo Channel 4. Também vai virar, é
claro, artigo acadêmico.
Professor
Chris Stringer ficou impressionado ao ver a reconstrução do Homem
de Cheddar
O
professor Chris Stringer, que lidera os estudos sobre origens humanas
no museu, se dedica a estudar o esqueleto do Homem de Cheddar há 40
anos.
Ele se
impressionou ao ver a reconstrução que pode ter revelado o rosto de
seu objeto de estudo.
"Ficar cara
a cara com a imagem de como esse homem pode ter parecido - a
combinação impressionante de cabelo, rosto, cor dos olhos e pele
escura - é algo que não poderíamos imaginar alguns anos atrás.
Mas é que os dados científicos mostram."
Link da reportagem:
http://www.bbc.com/portuguese/geral-42973059
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