A
pequena caixa craniana e o grande maxilar do hominídio surpreenderam os
cientistas e pode levar a uma mudança no modo como se escreve a evolução do
gênero Homo.
Crédito: Guram Bumbiashvili
Duas
espécies em um mesmo crânio – O
Crânio 5 foi escavado em duas etapas pelos pesquisadores. Primeiro, eles
descobriram a pequena caixa craniana, no ano 2000. Seu tamanho diminuto — ela
media apenas 546 centímetros cúbicos, em comparação aos 1350 centímetros
cúbicos dos humanos modernos — sugeria a existência de um cérebro pequeno.
Durante os anos seguintes, continuaram escavando a região, em busca do maxilar
que iria completar a figura.
Em 2005,
finalmente encontraram os ossos que faltavam, mas, ao contrário do esperado, o
maxilar era enorme, com dentes grandes. “Se a caixa craniana e o resto do
Crânio 5 fossem encontrados como fósseis separados, em lugares diferentes da
África, eles seriam atribuídos a espécies diferentes", diz Christoph
Zollikofer.
Durante os oito
anos seguintes, os pesquisadores realizaram estudos comparativos dos cinco
crânios encontrados no local. Como resultado, concluíram que eles pertenceram à
mesma espécie de ancestrais humanos, surgidos pouco tempo depois de o gênero Homo
divergir do Australopithecus e se dispersar da África. "Os
fósseis de Dmanisi parecem muito diferentes uns dos outros, e seria tentador
classificá-los como espécies diferentes", diz Zollikofer. "No
entanto, sabemos que esses indivíduos vieram do mesmo local e tempo geológico,
então eles devem, em princípio, representar uma única população de uma única
espécie.” Segundo os cientistas, diferenças de idade e sexo devem ser
responsáveis pelas principais diferenças morfológicas.
Modelos
dos cinco crânios encontrados na Geórgia. Eles estão colocados em ordem, do 1
ao 5, demonstrando a diferença que existia entre os indivíduos
Assim, os
pesquisadores sugerem que a ideia da existência de várias espécies Homo —
cada uma especializada para um ambiente do Terra — seja derrubada. Ao
contrário, eles defendem a existência de uma única espécie Homo erectus,
surgida no continente africano, capaz de se adaptar aos diferentes ecossistemas
e que viria dar origem aos seres humanos modernos. A hipótese não deve ser
aceita de imediato pela comunidade científica, mas dar origem a discussões
acadêmicas e mais estudos que podem, eles sim, mudar o modo com a história
evolutiva da espécie humana é narrada.
CONHEÇA A
PESQUISA
Onde foi
divulgada: Periódico
Science
Quem
fez: Christoph
P. E. Zollikofer, entre outros pesquisadores.
Instituição:
Museu Nacional
da Geórgia, entre outras.
Dados
de amostragem:
Análises de cinco crânios encontrados na região de Dmanisi, na Geórgia.
Resultado: Os pesquisadores concluíram que,
apesar das diferenças entre si, os crânios pertenceram à mesma espécie de
ancestral humano, que viveu na região há 1,8 milhão de anos. Essas espécies
foram todas encontradas na África, em períodos que vão até 2,4 milhões de anos
atrás. Os pesquisadores usaram a variação no formato de seus crânios para
classificá-las como espécies diferentes, porém aparentadas. No entanto, desde a
descoberta dos primeiros fósseis, os cientistas têm enfrentado dificuldades para
traçar uma linha evolutiva entre elas, sem conseguir apontar de maneira
definitiva qual deu origem às outras e aos Homo sapiens.
O novo crânio
descoberto na Geórgia — que ganhou o nome de Crânio 5 — combina entre suas
características uma caixa craniana pequena, um rosto excepcionalmente comprido
e dentes grandes. Até agora, o sítio arqueológico só foi parcialmente escavado,
mas se revelou um dos mais importantes já descobertos. O fóssil foi encontrado
ao lado dos restos mortais de outros quatro ancestrais humanos primitivos, um
grande número de ossos de animais e algumas ferramentas de pedra.
Segundo os
cientistas, os fósseis estão associados ao mesmo local e período histórico,
sugerindo que as ossadas pertenceram todas à mesma espécie de ancestral humano.
Isso forneceu aos pesquisadores uma oportunidade única para comparar os traços
físicos de indivíduos de uma mesma espécie e o que descobriram foi uma grande
variedade de tamanhos e formas, mas nada diferente da variação encontrada entre
os humanos modernos. "Graças à amostra relativamente grande de Dmanisi,
pudemos ver a grande diferença que existia entre os indivíduos. Essa variação,
porém, não é superior à encontrada entre populações modernas de nossa própria
espécie, dos chimpanzés ou bonobos", diz Christoph Zollikofer, pesquisador
do Instituto e Museu de Antropologia, na Suíça, e um dos autores do estudo.
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