"A primeira caçada pre-historica"
Uma ponta de lança incrustada em uma costela de mastodonte mostrou que esse primo pré-histórico dos elefantes estava sendo caçado nas Américas, a caminho da extinção, bem antes do que se imaginava. Por muito tempo se pensou que os "paleoíndios" da chamada cultura Clovis tinham sido os responsáveis por caçar e exterminar os grandes mamíferos da Era do Gelo (conhecidos como megafauna) nas Américas. E isso teria acontecido bem rapidamente. Tanto que os antropólogos e arqueólogos usavam uma expressão germânica, "blitzkrieg", a "guerra-relâmpago" da Segunda Guerra Mundial, para descrever o processo.
Mas a costela com a ponta de lança achada no sítio de Manis, no Estado americano de Washington, perto da fronteira com o Canadá, foi agora datada em quase 14 mil anos de idade. Ou seja, é algo anterior à cultura Clovis, com início em cerca de 13 mil anos atrás, caracterizada por pontas de lança de pedra com encaixes especiais. A ponta de lança estudada pelos pesquisadores era feita não de pedra, mas de osso de outro pobre mastodonte, caçado e morto antes.
BEM ANTES
"A evidência do sítio de Manis mostra que as pessoas estavam caçando mastodontes com armas de osso antes das pontas de lança de pedra de Clovis", declarou o líder da equipe de oito pesquisadores dos EUA e da Dinamarca, Michael Waters, do Centro para o Estudo dos Primeiros Americanos, da Universidade do Texas A&M. O fato de ser um osso incrustado em outro fez e ainda faz alguns pesquisadores duvidarem da autenticidade do achado. Poderia ser um acidente, dizem céticos. Mas essa é uma opinião rara. O pré-histórico caçador que enfiou sua lança, um belo artefato com ponta de 27 cm, deve ter xingado muito ao perdê-la -para sorte dos arqueólogos, contudo.
As evidências mostram que ele teria enfiado a lança no lado esquerdo do mastodonte, mas que, em vez de acertar algum órgão vital, acabou fazendo a lança se alojar em um osso, com certeza deixando o animal violento e alucinado. Por sorte para a tribo, outros caçadores devem ter ferido o bicho em lugares mais vitais, matando o mastodonte e recuperado a maioria de suas armas.
Mas o animal de três toneladas caiu pelo lado esquerdo e com isso impediu que a ponta de lança, que penetrou em torno de 20 cm ou 25 cm na sua pele, pudesse ser recuperada. Isso até a década de 1970, quando uma escavação encontrou o material. Mas só agora que a equipe americana de Waters, junto com os pesquisadores dinamarqueses envolvidos na descoberta original, foram reavaliar os achados, e testá-los de modo moderno. Usaram testes de DNA do osso e da ponta de lança, datações de carbono-14 (que funcionam como relógio atômico de restos de seres vivos) e raio-X de alta resolução.
"É mais uma prova de que os seres humanos estavam presentes na América do Norte bem antes do que se acreditava. A teoria 'Clovis em primeiro lugar', que era tão adorada por muitos cientistas há poucos anos atrás, foi finalmente enterrada com as conclusões desse estudo", diz o pesquisador dinamarquês Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague. A descoberta está na edição desta semana da revista americana "Science".
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
* A nova descoberta evidência sobre as caçadas na pré-história americana e interessante e instrutiva, mas a discussão sobre se haviam seres humanos nas Américas pré-Clovis já foi encerrada ha mais de uma década, exceto em alguns (poucos) recantos dos EUA, que se recusavam a ler coisas publicadas por outros autores, especialmente se não fossem norte americanos. A imprensa, de certa forma, reverbera essas informações equivocadas por falta de
informação sobre o tema (os repórteres que cobrem os fatos científicos, com freqüência, são os mesmos que cobrem as ocorrências policiais, políticas etc.) ou por colonialismo (achando que por aqui não se faz ciência seria).
Mas o volume de investigações e publicações sobre o assunto nos últimos 10-12 anos, inclusive com intensa produção brasileira, não deixa duvidas de que a ocupação do continente começou MUITO antes das datações encontradas em Clovis e Folsom. Os desafios agora se concentram em desvendar o quão antes a ocupação começou e por quais caminhos os primeiros habitantes chegaram ate aqui.
informação sobre o tema (os repórteres que cobrem os fatos científicos, com freqüência, são os mesmos que cobrem as ocorrências policiais, políticas etc.) ou por colonialismo (achando que por aqui não se faz ciência seria).
Mas o volume de investigações e publicações sobre o assunto nos últimos 10-12 anos, inclusive com intensa produção brasileira, não deixa duvidas de que a ocupação do continente começou MUITO antes das datações encontradas em Clovis e Folsom. Os desafios agora se concentram em desvendar o quão antes a ocupação começou e por quais caminhos os primeiros habitantes chegaram ate aqui.
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